J.Borges comemora 70 anos de gravura com álbuns inéditos

DO TEXTO:

Lançamento acontece neste sábado (18), na Galeria Arte Maior

Bruno Albertim

Menino, aos 12 anos, José Francisco Borges já era figura tarimbada na feira de Bezerros. Vendia brinquedos, colheres de pau e, elementos que mudariam sua trajetória, folhetos com literatura de cordel. Quis também ser um autor cordelista e, na impossibilidade de contratar um artista, talhou a fachada da igreja matriz de sua cidade para ilustrar seus versos de “O verdadeiro aviso de Frei Damião”. Setenta anos depois, J.Borges tem obras na Biblioteca do Congresso Norte-Americano, em Washignton, impressas em páginas de autores como Eduardo Galeano e José Saramago, rodou parte do mundo conhecido com exposições, continua vivendo modicamente às margens da BR-232 em Bezeros e, para comemorar as sete décadas de carreira, lança uma série de xilogravuras especiais.

A menina peru (detalhe): uma das novas gravuras de J.Borges-Divulgação
 
Com lançamento neste sábado, na Arte Maior Galeria, em Boa Viagem, Borges lança três álbuns com dez exemplares, cada, de gravuras inéditas a partir de matrizes talhadas em 2017. Cada álbum é composto por dez gravuras, ao valor de R$ 1,5 mil cada. Um canto de sereia para colecionador: a galeria vai disponibilizar apenas dez exemplares, devidamente assinados, de cada álbum. “Quando eu comecei, quase ninguém conhecia essa arte. Comecei com preto e branco, que é o que mais gosto, que é a tradição. Mas hoje faço 90 coloridas para cada preto e branca. O público foi pedindo, e acabei colorindo”, ele diz.



A oferta dos álbuns inéditos de Borges numa galeria afeita a comercializar o melhor da arte moderna, sobretudo pernambucana, tão cara ao colecionismo local subverte, de certa forma, a própria lógica de mercado que Borges imprimiu à sua obra. Em 1992, ele expôs na Galeria Stähli, em Zurique, e, depois, no Museu de Arte Popular de Santa Fé, Novo México. Novas exposições viriam na Europa e nos Estados Unidos. “(Ter exposto) no exterior, me valorizou um pouco mais. Porque o brasileiro não acredita no que tem; ele quer saber o que o estrangeiro gosta para poder ir atrás. Só depois disso, o povo mesmo aqui de Bezerros começou a pedir meus trabalhos”.
 

NO EXTERIOR

A trajetória internacional, contudo, pouco alterou a vida ou a política de acesso democrático que ele gosta de imprimir à sua obra. “Expor fora do Brasil não muda em nada a minha vida”, diz ele, a mesma voz pausada e agreste com a qual recebe dezenas de visitantes em seu ateliê-residência. “Continuo trabalhando do mesmo jeito, sendo a mesma pessoa”, diz ele, pouco afeito à lógica primal do mercado da exclusividade. “Não gosto de tiragem limitada, porque assim tem que se vender mais caro. Eu continuo tirando cópias avulsas. Se eu fizesse uma tiragem de 30 cópias, eu venderia por R$ 500 cada uma. Mas prefiro vender por R$ 50, porque aí compra o médico, o advogado e o pedreiro”, ele diz.

Uma tiragem, exclusiva, de gravuras de Borges, chancelada por uma galeria tradicional, é, portanto, item de colecionador. O que, contudo, não modifica seu metabolismo criativo: “Os temas mudam. Faço coisas diferenets, mas faço sempre as coisas da região, os costumes do povo, o folclore, os acontecimentos, as lendas. Então, eu vivo dentro desse contexto”.

SERVIÇO:
Coquetel de lançamento dos álbuns de gravuras de J. Borges, sábado (18), com presença do artista, às 10h da manhã. Na Arte Maior Galeria (Avenida Domingos Ferreira, Boa Viagem, no Recife Trade Center). www.artemaior.com.br. Telefone: 3301-4354.


POSTS RELACIONADOS:
Enviar um comentário

Comentários