Obras. A exposição reúne 150 títulos portugueses que abordam diversos temas, entre histórias de amor, comédias e crendices populares
Obras que mostram legado de Portugal podem ser vistas a partir desta quarta-feira (8)
Carlos Andrei Siquera
No Brasil, o termo cordel é amplamente conhecido como um tipo de literatura específica produzida, principalmente, na região Nordeste. O que poucos sabem é que essa vertente retoma uma prática bastante comum anteriormente em Portugal, desde o século XVII, e praticada, no passado, também na Espanha. Quem garante isso é o professor emérito da Universidade do Porto, Arnaldo Saraiva, responsável pela organização da mostra “Folhetos de Cordel Portugueses”, que pode ser vista a partir desta quarta-feira (8) na Academia Mineira de Letras.
“O nome cordel tem a ver com o modo como esses folhetos eram vendidos, presos em barbantes dispostos, por exemplo, na porta das lojas”, lembra o português Saraiva, que, atualmente, possui um acervo particular com 800 exemplares de origem portuguesa e cerca de 5.000 confeccionados em solo brasileiro. Do primeiro grupo, ele selecionou 150 que estarão expostos pela primeira vez em Belo Horizonte.
O mais antigo é de 1602 e o mais recente de 1970. A partir desse recorte, Saraiva quer ressaltar como o cordel brasileiro descende das criações portuguesas. “O que se produz no Brasil deriva, essencialmente, do modelo ibérico, e o cordel brasileiro se fixou num certo padrão. Por exemplo, ele traz principalmente poesias, ao passo que em Portugal existiam folhetos de teatro, prosa narrativa ou didática”, observa ele.
Em comum, Saraiva nota que tanto nos exemplares brasileiros quanto nos portugueses encontram-se com frequência histórias cômicas, embora, nos primeiros, esse gênero alcance uma proporção maior. “Há muito mais humor no cordel brasileiro do que, em geral, no cordel português. Mas o cordel português sempre cultivou os elementos jocosos e críticos. Há, inclusive, um que tem um título muito interessante: ‘Paródia Épico Macarrônica’”, pontua ele.
“Há folhetos que falam dos percevejos e pulgas que atacam os estudantes da Universidade de Coimbra, outros que falam dos maus poetas. Há também cartas de amor, e mesmo nessas nós podemos achar elementos que provocam o riso, coma a história que se passa no Rio de Janeiro e traz a confissão de um marujo. Ela se baseia num diálogo entre uma mulher e seu marido, mas as falas são completamente equivocadas”, completa o pesquisador.
Outra característica destacada por ele é que, no Brasil, predomina o cordel dobrado e quase não encontram-se exemplares em outros formatos, como havia em Portugal. “Separei uma coleção de folhetos em que dá para notar essa variedade, desde o mais pequeno ao mais longo, que podemos chamar de ‘folha voante’ ou cordel não dobrado. No Brasil, se fixou o modelo médio entre aqueles que eram feitos em Portugal”, detalha Saraiva, que expõe também alguns títulos brasileiros para o público poder notar essas diferenças.
Sobre as temáticas, o pesquisador explica que o cordel português explora uma ampla diversidade. “Há vários folhetos ligados ao amor, às histórias de casamento, mas há também aqueles que tratam de crendices populares, tratam do livro de São Ciprião, do oráculo de Napoleão e das bruxas. Há um, feito em 1819, pelo escritor José Daniel Rodrigues da Costa, inclusive, que narra uma viagem do homem à lua”, acrescenta ele.
Trajetória
Arnaldo Saraiva, além de professor da Universidade do Porto, em Portugal, é poeta, tradutor, ensaísta e sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras. É conhecido por divulgar a literatura brasileira no exterior.
Agenda O quê: Mostra “Folhetos de Cordel Portugueses”
Quando: De 8 a 26 de novembro, diariamente das 9h às 20h
Onde: Academia Mineira de Letras (rua da Bahia, 1.466, Lourdes)
Obras que mostram legado de Portugal podem ser vistas a partir desta quarta-feira (8)
Carlos Andrei Siquera
No Brasil, o termo cordel é amplamente conhecido como um tipo de literatura específica produzida, principalmente, na região Nordeste. O que poucos sabem é que essa vertente retoma uma prática bastante comum anteriormente em Portugal, desde o século XVII, e praticada, no passado, também na Espanha. Quem garante isso é o professor emérito da Universidade do Porto, Arnaldo Saraiva, responsável pela organização da mostra “Folhetos de Cordel Portugueses”, que pode ser vista a partir desta quarta-feira (8) na Academia Mineira de Letras.
“O nome cordel tem a ver com o modo como esses folhetos eram vendidos, presos em barbantes dispostos, por exemplo, na porta das lojas”, lembra o português Saraiva, que, atualmente, possui um acervo particular com 800 exemplares de origem portuguesa e cerca de 5.000 confeccionados em solo brasileiro. Do primeiro grupo, ele selecionou 150 que estarão expostos pela primeira vez em Belo Horizonte.
Em comum, Saraiva nota que tanto nos exemplares brasileiros quanto nos portugueses encontram-se com frequência histórias cômicas, embora, nos primeiros, esse gênero alcance uma proporção maior. “Há muito mais humor no cordel brasileiro do que, em geral, no cordel português. Mas o cordel português sempre cultivou os elementos jocosos e críticos. Há, inclusive, um que tem um título muito interessante: ‘Paródia Épico Macarrônica’”, pontua ele.
Outra característica destacada por ele é que, no Brasil, predomina o cordel dobrado e quase não encontram-se exemplares em outros formatos, como havia em Portugal. “Separei uma coleção de folhetos em que dá para notar essa variedade, desde o mais pequeno ao mais longo, que podemos chamar de ‘folha voante’ ou cordel não dobrado. No Brasil, se fixou o modelo médio entre aqueles que eram feitos em Portugal”, detalha Saraiva, que expõe também alguns títulos brasileiros para o público poder notar essas diferenças.
Sobre as temáticas, o pesquisador explica que o cordel português explora uma ampla diversidade. “Há vários folhetos ligados ao amor, às histórias de casamento, mas há também aqueles que tratam de crendices populares, tratam do livro de São Ciprião, do oráculo de Napoleão e das bruxas. Há um, feito em 1819, pelo escritor José Daniel Rodrigues da Costa, inclusive, que narra uma viagem do homem à lua”, acrescenta ele.
Trajetória
Arnaldo Saraiva, além de professor da Universidade do Porto, em Portugal, é poeta, tradutor, ensaísta e sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras. É conhecido por divulgar a literatura brasileira no exterior.
Agenda
O quê: Mostra “Folhetos de Cordel Portugueses”
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