Tom Jobim ganha nova gravação com orquestra; ouça “O Boto”

DO TEXTO:
Mario Adnet e Paulo Jobim no Instituto Antônio Carlos Jobim do Jardim Botânico 
(Foto: Rodrigo Castro)

No imaginário popular, um banquinho e um violão são os meios necessários para um músico de bossa nova tocar, com amor, sua canção. Seu acompanhamento seria, no máximo, a fumaça de charutos de uma boîte escura. A obra do principal compositor do gênero, no entanto, contraria esta percepção desde os primeiros passos.

Além de tocar piano noite e gêneros musicais adentro, Tom Jobim iniciou sua carreira como arranjador e, ainda nos anos 1950, compôs e arranjou a peça musical Orfeu da Conceição, escrita por Vinicius de Moraes, e proveu música para uma leitura de Paulo Autran do clássico infantil O Pequeno Príncipe. Em 1961, compõe a Sinfonia da Alvorada, a pretexto da inauguração de Brasília, e já no seu primeiro voo solo em disco — The Composer of Desafinado, Plays — apresenta material para orquestra, que acompanha as canções.

É em 1967, justamente quando a indústria fonográfica americana tenta alçá-lo ao posto de latin lover após a célebre gravação com Frank Sinatra, que os arranjos para orquestra saltam para o primeiro plano, no LP Wave.

É neste período que inicia sua parceria com o regente e arranjador alemão Claus Ogerman, que marca sua produção de fins dos anos 60 e toda a década de 70. Em seguida de Wave, em 1970, Stone Flower e Tide — os três de caráter jazzístico — consolidam uma transição que afastava Tom da primeira bossa nova.

Matita Perê e Urubu, lançados em 1973 e 1975, marcam o pico criativo do período sinfônico do Maestro Soberano. É quando se torna mais evidente em sua música, para além da bossa nova e da canção americana, a influência de Heitor Villa-Lobos (de longe a principal delas), Radamés Gnatalli e de compositores do modernismo europeu, como Ravel e Debussy.

A produção deste período, ainda que menos conhecida do grande público, segue despertando interesse em novos músicos e ouvintes. Neste espírito, uma gravação que contempla este repertório chega logo menos pelas mãos de Mário Adnet e Paulo Jobim. O disco Jobim — Orquestra e Convidados será lançado no dia 21 de outubro em concerto na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro.

Ouça abaixo, com exclusividade na Bravo!, a nova gravação de “O Boto”:


O novo disco completa uma trilogia informal de projetos tocados por Adnet e Jobim que lançam luz em peças menos conhecidas de Tom, formada também pelos discos e shows Jobim Sinfônico (2002) e Jobim Jazz (2007 e 2015). “A princípio pensamos numa mistura dos dois projetos, depois numa continuidade do Jobim Sinfônico e, então, como entraram vários sucessos com arranjos novos e a garotada convidada pra participar, resolvemos chamar de Jobim — Orquestra e Convidados”, explica Mario Adnet. “É um nome mais leve, embora seja um pouco a continuidade do Jobim Sinfônico, mas não com uma orquestra sinfônica, embora soe bem grande”.

Das treze faixas, nove contam com arranjos novos — sete de Adnet e dois de Paulo Jobim. O Boto, aqui cantada por Daniel Jobim, ganhou nova roupagem, desenhada por Adnet, que preserva elementos da versão dos anos 70. As outras quatro faixas seguem o arranjo original de Claus Ogerman.

Entre os cantores e instrumentistas convidados, estão Alice Caymmi, que interpreta Falando de Amor, e Yamandu Costa, que sola com a orquestra em Um Certo Capitão Rodrigo, faixa pouco executada que Tom Jobim e Ronaldo Bastos compuseram para a adaptação televisiva de O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo.

“Gosto muito de poder mostrar esse outro lado também”, diz Adnet. “O grande público só conhece os sucessos e, atualmente, bem poucos. O que acho fascinante é que o Tom se dedicou mesmo, trabalhou muito, em todas as suas músicas. Se uma foi sucesso e outra não, ele não tinha como prever. Quem sabe vira sucesso algum dia?”, se pergunta.

Mario Adnet e Paulo Jobim (Foto: Rodrigo Castro)

Paulo Jobim, filho mais velho de Tom, é o único compositor além do pai registrado no disco. Mantiqueira Range e Valse, agora regravadas, foram lançadas originalmente no discos Matita Perê e Urubu, respectivamente. Já Saci foi composta com Ronaldo Bastos e gravada pelo Boca Livre em 1980 com a participação de Tom. “Fiquei muito feliz de ver essas músicas gravadas novamente”, diz Paulo. “O frescor continua o mesmo e os músicos, quase todos jovens, tocam muito bem“.

Para a gravação, foi convocado um time de 35 músicos, incluindo uma seção de 22 cordas sob os cuidados do violinista Claudio Cruz. Cantores interpretam canções mais conhecidas de Tom Jobim que completam o repertório com versões orquestradas de Águas de Março (cantada por Antonia Adnet, Desafinado (Mario Adnet), Chega de Saudade (Alfredo Del-Penho), Chovendo na Roseira (Luiz Pilé), Eu Te Amo (Dora Morelenbaum), O Amor em Paz (Paulo Jobim) e Olha Maria (Júlia Vargas).

Jobim — Orquestra e Convidados, com Mario Adnet e Paulo Jobim
Lançamento: 21 de outubro (sábado), às 21h. Ingressos: R$ 25 a R$ 50.
Cidade das Artes: Avenida das Américas, 5300 — Barra da Tijuca — Rio de Janeiro.




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