Ana Moura, Caetano Veloso, Salvador Sobral e Carminho
Cantor faz sucesso na Europa com ‘Amar pelos dois’, música-tema da novela das 18h
POR DIANA FERRAZ*
RIO — No Brasil, pouca gente sabe, mas houve um momento em 2017 em que, na Europa, só se falava em Salvador. Lá, em meados de maio, a palavra era pronunciada com os mais diferentes sotaques. Àquela altura, por aqui, até Caetano Veloso inventou de falar em Salvador — o que seria uma baita redundância se estivéssemos falando da capital baiana. Mas, no caso, Salvador é nome de gente mesmo. Mais do que isso: para muitos portugueses, Salvador Sobral é sinônimo de orgulho nacional. Foi ele quem fez Portugal vencer pela primeira vez, neste ano, o Eurovision, uma das competições de música mais vistas no continente europeu, cantando sobre um coração que sentia um amor tão puro que, mesmo unilateral, poderia amar por dois. Agora, enquanto sua música se consagra como tema de abertura da nova novela das 18h da TV Globo, “Tempo de amar”, que estreou na terça-feira, o frágil coração de Salvador pede cuidados. Depois que ele anunciou uma pausa na carreira para cuidar da saúde, jornais e revistas europeus noticiam que o cantor de 27 anos está internado, aguardando por um transplante do órgão.
O jovem músico português Salvador Sobral espera por um transplante de coração Divulgação
“Amar pelos dois”, a música da novela e com a qual o português representou seu país no Eurovision, foi composta por sua irmã, a cantora e compositora Luísa Sobral. Na competição anual, chamada por alguns de “a Copa do Mundo” da música na Europa, cada um dos países participantes — atualmente 42, todos europeus, com exceção de Israel e do Azerbaijão — elege uma canção inédita para representá-lo na disputa. Apesar de alcançar grandes audiências (204 milhões de pessoas assistiram à transmissão em 2016), o programa é levemente esnobado pela crítica musical por tradicionalmente apresentar canções muito comerciais, com refrãos-chiclete, intérpretes extravagantes e dancinhas caricatas. A qualidade e a simplicidade de “Amar pelos dois” foram um diferencial que lhe rendeu o prêmio de canção do ano. Além de ser a primeira vez que o país ganhava o concurso (que já existe desde 1956), a vitória de Salvador foi comemorada pela crítica por supostamente representar o êxito da qualidade musical ante o mero espetáculo.
“SURGIRAM CONVITES DE TODO O MUNDO” Enquanto aguardava o resultado da final da Eurovision, que neste ano aconteceu em Kiev, na Ucrânia, Salvador assistiu de lá mesmo, na espera, a um vídeo postado no Instagram de Caetano Veloso, em que o baiano dizia estar torcendo por sua vitória. Emocionado, Salvador afirmou que aquela declaração valia mais do que o prêmio da competição.
— Ele fala que Caetano é seu maior ídolo vivo — conta empresária do cantor, Ana Paulo.
Depois da vitória, o então pouco conhecido músico de jazz virou famoso da noite para o dia. Salvador colocou Portugal no noticiário de dezenas de países europeus e fez falantes de diferentes idiomas se arriscarem na lusofonia ao cantarolar sua música.
— Chegaram convites de todo o mundo para concertos e entrevistas — lembra Ana — Mas foi impossível responder a todos devido à condição de saúde do Salvador.
Com relação a isso, equipe e família do músico desconversam e não confirmam detalhe algum sobre sua situação. Mas a saúde do cantor tem sido frequentemente noticiada pela mídia europeia desde o início de setembro, quando ele publicou um vídeo no Facebook anunciando uma pausa total na carreira para “entregar seu corpo à ciência”. O presidente da Associação Portuguesa de Cardiologia, Manuel Carrageta, declarou ao jornal português “Correio da Manhã” que o cantor sofre de insuficiência cardíaca em estágio avançado e está em primeiro lugar na fila para um transplante de coração compatível com o dele (pertencente a um jovem de menos de 35 anos com os mesmos tipo sanguíneo, peso e altura de Salvador e que tenha tido morte cerebral).
‘Espero que Salvador supere os problemas de saúde e cante muito, por muitos anos. Ele é um tesouro da cultura de língua portuguesa e um amor de menino’ - CAETANO VELOSO Cantor, compositor e fã de Salvador Sobral
Enquanto isso, por aqui, a gerência musical da TV Globo apresentava “Amar pelos dois” a Jayme Monjardim, diretor da novela de Alcides Nogueira que mostra um amor nascido num vilarejo português antes de seguir para o Brasil.
— Foi amor à primeira vista. Imediatamente, tive certeza de que a música seria a abertura perfeita para a novela, porque a letra fala de um amor simples e suave e define de maneira incrível o que é esse amor, que pode amar por dois — diz Jayme.
Salvador, que estudou jazz na prestigiada escola Taller de Musics, em Barcelona, tem a bossa nova e outros ritmos brasileiros como influências diretas. Em seu disco “Excuse me” (2016), de releituras de canções que fazem parte de suas referências, há uma versão em piano e voz de “Nem eu”, de Dorival Caymmi. Foi essa música que Salvador cantou junto com Caetano durante um encontro informal na casa da cantora Carminho após um show do baiano no Estoril, poucos dias depois da vitória no Eurovision.
— Foi uma noite muito bonita, ele cantou muito bem. Se eu demorava um segundo a saber o acorde, ele me cantava o baixo, e eu chegava às notas certas — diz Caetano, que afirma querer tocar com ele mais vezes. — Espero que Salvador supere os problemas de saúde e cante muito, por muitos anos. Ele é um tesouro da cultura de língua portuguesa e um amor de menino.
Cantor faz sucesso na Europa com ‘Amar pelos dois’, música-tema da novela das 18h
POR DIANA FERRAZ*
RIO — No Brasil, pouca gente sabe, mas houve um momento em 2017 em que, na Europa, só se falava em Salvador. Lá, em meados de maio, a palavra era pronunciada com os mais diferentes sotaques. Àquela altura, por aqui, até Caetano Veloso inventou de falar em Salvador — o que seria uma baita redundância se estivéssemos falando da capital baiana. Mas, no caso, Salvador é nome de gente mesmo. Mais do que isso: para muitos portugueses, Salvador Sobral é sinônimo de orgulho nacional. Foi ele quem fez Portugal vencer pela primeira vez, neste ano, o Eurovision, uma das competições de música mais vistas no continente europeu, cantando sobre um coração que sentia um amor tão puro que, mesmo unilateral, poderia amar por dois. Agora, enquanto sua música se consagra como tema de abertura da nova novela das 18h da TV Globo, “Tempo de amar”, que estreou na terça-feira, o frágil coração de Salvador pede cuidados. Depois que ele anunciou uma pausa na carreira para cuidar da saúde, jornais e revistas europeus noticiam que o cantor de 27 anos está internado, aguardando por um transplante do órgão.
por um transplante de coração
Divulgação
“SURGIRAM CONVITES DE TODO O MUNDO”
Enquanto aguardava o resultado da final da Eurovision, que neste ano aconteceu em Kiev, na Ucrânia, Salvador assistiu de lá mesmo, na espera, a um vídeo postado no Instagram de Caetano Veloso, em que o baiano dizia estar torcendo por sua vitória. Emocionado, Salvador afirmou que aquela declaração valia mais do que o prêmio da competição.
— Ele fala que Caetano é seu maior ídolo vivo — conta empresária do cantor, Ana Paulo.
Depois da vitória, o então pouco conhecido músico de jazz virou famoso da noite para o dia. Salvador colocou Portugal no noticiário de dezenas de países europeus e fez falantes de diferentes idiomas se arriscarem na lusofonia ao cantarolar sua música.
— Chegaram convites de todo o mundo para concertos e entrevistas — lembra Ana — Mas foi impossível responder a todos devido à condição de saúde do Salvador.
- CAETANO VELOSO
Cantor, compositor e fã de Salvador Sobral
Enquanto isso, por aqui, a gerência musical da TV Globo apresentava “Amar pelos dois” a Jayme Monjardim, diretor da novela de Alcides Nogueira que mostra um amor nascido num vilarejo português antes de seguir para o Brasil.
— Foi amor à primeira vista. Imediatamente, tive certeza de que a música seria a abertura perfeita para a novela, porque a letra fala de um amor simples e suave e define de maneira incrível o que é esse amor, que pode amar por dois — diz Jayme.
Salvador, que estudou jazz na prestigiada escola Taller de Musics, em Barcelona, tem a bossa nova e outros ritmos brasileiros como influências diretas. Em seu disco “Excuse me” (2016), de releituras de canções que fazem parte de suas referências, há uma versão em piano e voz de “Nem eu”, de Dorival Caymmi. Foi essa música que Salvador cantou junto com Caetano durante um encontro informal na casa da cantora Carminho após um show do baiano no Estoril, poucos dias depois da vitória no Eurovision.
* Estagiária, sob a supervisão de Flávia Martin
In O Globo
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