Lulu Santos cancela ano sabático e lança álbum com músicas de Rita Lee

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RIO — Em novembro do ano passado, Lulu Santos anunciava ao GLOBO que 2017 seria sabático. Não contava, porém, com o impacto que “Rita Lee: uma autobiografia”, lançado no mesmo mês, teria sobre ele. Nesta sexta-feira, menos de um ano depois de devorar o livro, o hitmaker chega com “Baby baby!” (Univesal Music), álbum só com recriações de músicas da cantora.

— O que me fez fazer o disco não foi a minha relação com a Rita. Foi como as canções dela bateram em mim. Eu vi no livro o quanto aquilo era importante para mim, independentemente de ter virado amigo dela — relata Lulu. — Aquelas canções, que ela descreve como foram feitas, cada uma delas era um pedaço da minha vida. Num país mergulhado em uma ditadura militar, aquilo era uma das pouquíssimas coisas com as quais eu podia me conectar.

Na estreia de Lulu em LP (“Tempos modernos”, de 1982), Rita Lee era uma presença que não dava para ignorar: ela assinava “Scarlet Moon” (música para a então mulher do cantor, que veio a falecer em 2013) e, junto com Gilberto Gil, uma versão safadinha de “Get beck”, dos Beatles (“De leve”). Dois anos antes, ele tocara o baixo na gravação de “Ôrra meu!”, um dos grandes sucessos de Rita, famoso por dizer que “roqueiro brasileiro sempre teve cara de bandido”. 

— Depois, ela passou a cantar “roqueiro brasileiro já não tem mais cara de bandido” — lembra o cantor, para quem o papel de pioneira de Rita no cenário do pop é inquestionável. — O que é o mundo artístico de hoje? É women on top, de Anitta a Beyoncé. E até para quem não é exatamente mulher mas deseja muito ser. 

Para Lulu, Rita foi além do “experimentalismo debochado e infantil” dos Mutantes, o cultuado grupo do qual ela fez parte nos anos 1960 e 70.

— Ela é mais determinada, soube compreender melhor seu papel. Mas eu acho os primeiros discos solo da Rita ainda soterrados de machismo, de músicos e de bateristas. Por isso que, quando chega o Roberto (de Carvalho, seu parceiro no amor e na música), vem uma delicadeza, um romantismo, um espírito feminino. Até então, os modelos da Rita eram homens. Ela imitava os andróginos, o David Bowie e o Mick Jagger, os que imitavam mulheres. 

Os primeiros contatos de Lulu Santos com Rita Lee foram na época em que ela estava no grupo dos irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista. Em “Baby baby!”, inclusive, Lulu gravou a “Fuga n° II”, do LP de 1969. O jovem músico (cinco anos mais novo do que Rita) perseguiu o trio nos bastidores do programa “Som Livre exportação”, da TV Globo.

           

— Eu ia mais atrás do Sérgio, por causa do meu interesse por equipamento de som, mas quem teve interesse por mim, pela minha estranheza, foi a Rita — conta Lulu. — Na grande final do programa, no Anhembi, fui escolhido para ser um dos monstros no palco, com espuma colada. Naquele dia, o monstro que sequestrou a Rita fui eu. 

O disco com as canções de Rita Lee deu a Lulu Santos menos trabalho que aquele que ele gravou com a obra de Roberto e Erasmo Carlos, lançado em 2013. 

— No da Rita, estão o meu léxico, minha ótica, minha onda e o meu amor pela obra — diz Lulu, que hoje considera o outro um “exercício estético” de “botar o r&b que estava faltando”. — As músicas da Rita falam para mim, sei todas as letras de cor. 

Na feitura de “Baby baby!”, ele pôde atentar para todas as características biográficas que partilha com a ídola. 

— Cara, a gente é baby boomer! Teve um momento em que eu achei que o título do disco ia ser “A era do espaço” por causa da quantidade de menções a discos voadores, ETs, foguetes, tudo que tinha na cabeça de quem cresceu na década de 1960. Era uma Humanidade que poderia evoluir — conta. — Mas depois ela escreve “Paradise Brasil” (do disco “Reza”, de 2012), feroz crítica ao fato de você passar meio século da sua vida imersa num ambiente que só lhe decepciona.

Lulu diz que as canções do disco foram escolhidas “por memória afetiva”. 

— A primeira foi “Disco voador”, parceria inaugural de Rita e Roberto — justifica ele que, paralelamente à seleção musical, comprou uma bateria eletrônica Roland TR-808 e começou a programar batidas. — Eu achava que as gravações originais das canções da Rita eram brilhantes, mas sempre atropeladas por uns bateristas muito chucros e mal-intencionados. Elas voltavam para mim reorganizadas ritmicamente. 

Com a aprovação de Roberto de Carvalho (que apresentava a Rita as faixas de “Baby baby!” à medida em que eram gravadas), Lulu foi atrás de produtores para auxiliá-lo. E aí chegou a Silva (“Ovelha negra”), ao velho parceiro Memê (“Paradise Brasil”) e a Marcelinho da Lua (que o ajudou a transformar “Alô, alô marciano” num drum’n’bass).

E a festa das recriações segue em breve: ex-DJ da banda de Lulu, Sany Pitbull tem pronto um álbum em que astros do funk como Naldo, MC Marcinho e Tati Quebra-Barraco levam funk às canções do hitmaker carioca. 

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