Rock in Rio: histórias da edição no Brasil que parecem saídas de um filme

DO TEXTO:
Fotos de I Hate Flash/Rock in Rio.
Um carteirista foi apanhado pelo público, uma fotógrafa foi assaltada no meio do mato e há quem levante acreditações para trabalhar mas prefira ir divertir-se.

Andreia Costa

A organização do Rock in Rio só festeja e respira realmente de alívio quando as portas de uma edição fecham sem incidentes. É assim em Portugal, no Brasil e em qualquer outro país pelo qual passe o festival. Contudo, a cidade onde o evento nasceu, em 1985, continua a ser aquela que tem mais obstáculos para ultrapassar.

A maioria paga 122€ por um bilhete, passa o ano inteiro à espera deste momento. Quando chega o dia, o único objetivo é aproveitar tudo (sejam concertos ou experiências) e não arranjar confusões. Ainda assim, elas existem — como em qualquer lado, é óbvio — mas no Rio de Janeiro parecem ainda mais insólitas.

A própria equipa do evento admite que o público português é mais ordeiro e que “quem faz um Rock in Rio Brasil, faz o de Lisboa com uma perna às costas”. As palavras são de Ricardo Acto, o homem que coordena o Centro de Controlo de Operações e que tem de saber a toda a hora o que se passa no recinto.

Há pessoas que tentam entrar com identificações falsas, outras que são contratadas para trabalhar mas que largam as acreditações para poderem divertir-se e as patrulhas na Lagoa de Jacarepaguá são constantes para evitar a venda de droga.

Antes de lhe contar as histórias desta edição — de 15 a 17 e entre 21 e 24 de setembro — que parecem saídas de um filme, é preciso dizer que nunca, fosse durante o dia ou à noite, me senti insegura no recinto. Demorava muito tempo a chegar de um ponto ao outro, circulava por entre milhares de pessoas e não houve qualquer problema. Está montada uma gigantesca operação que tenta controlar tudo o que é possível. O que não é possível passa-se, muitas vezes, já fora das vedações.

O carteirista
Já o primeiro dia, 15, do Rock in Rio estava terminado quando à porta do hotel — a comitiva portuguesa ficou instalada mesmo ao lado do recinto — se começou a ouvir uma onda crescente de ruído. Da janela do quarto viu-se um grupo de pessoas que começou a correr no mesmo sentido. Gerou-se uma mini onda de pânico que, ainda assim, desapareceu quase tão depressa como apareceu. Soube no dia seguinte que tudo tinha sido causado por um carteirista, que acabou imobilizado no meio do público por não ter por onde fugir.

Sendo o mesmo ou não, não é possível confirmar, no sábado foi detido um homem exatamente na mesma zona com 28 telefones roubados, escreveu o “Jornal do Brasil”. 

Os carteiristas gostam de trabalhar à saída do recinto

A fotógrafa assaltada
No domingo, 17, uma história que em Portugal estaria certamente em muitos jornais era contada com banalidade na sala de imprensa. Uma fotógrafa explicava que na sexta-feira, 15, após sair do recinto, tinha sido parada por um grupo de assaltantes. Levaram-na para “o meio do mato” e roubaram-lhe todo o material. “Mas ao menos estou viva”, dizia como se explicasse apenas que não tinha perdido o telemóvel ou qualquer outro bem substituível. O certo é que, ao início da tarde de domingo, já estava novamente equipada com várias máquinas e pronta para trabalhar.

As intrusões
Ricardo Acto é o português que coordena o CCO (Centro de Controlo de Operações), onde uma equipa controla em permanência o que se passa no recinto através de imagens de uma centena de câmaras. A qualquer momento pode começar uma discussão numa fila e, nesse sentido, o público brasileiro é mais desordeiro do que o português.

A segurança continua a ser a preocupação maior para a equipa. “Já tivemos tentativas de intrusão”, conta Ricardo Acto à NiT. Nesta edição circulou um rumor de que um homem vestido de polícia e com uma identidade falsa tinha tentado passar os controlos do recinto, embora não tenha conseguido confirmar se isto aconteceu de facto.

Trabalhar, 0 — Curtir, 1
Foi também no CCO que percebi como é difícil controlar até quem é contratado para trabalhar nos dias do evento. Entre membros da organização, enfermeiros, equipas de limpeza e funcionários dos diversos stands, os números rondam os 20 mil por dia (chegando, por vezes, a 50 mil). Os bilhetes para o Rock in Rio no Brasil são caros (cerca de 122€) e nem todos conseguem pagá-los. Por isso, há quem arranje solução:

“Temos casos de pessoas que levantam as acreditações para vir trabalhar mas que as deitam fora assim que entram no festival. Não se apresentam nos respetivos postos e vão divertir-se”, explica Ricardo Acto.

Outros aproveitam a oportunidade para roubar. “As pessoas estão distraídas com outras coisas, tudo se proporciona.”

As patrulhas na lagoa
O Rock in Rio mudou-se este ano do Recreio dos Bandeirantes para o Parque Olímpico, uma área com 300 mil metros quadrados. As duas zonas ficam perto uma da outra e são envolvidas pela Lagoa de Jacarepaguá. Era por aí que vários barcos tentavam chegar ao recinto com drogas para vender.

Em 2017, para evitar os mesmos problemas, é frequente ver patrulhas em barcos a policiarem a lagoa. É lá que estão também instaladas as estruturas de onde sai o fogo de artifício.

Todos os dias há vários fogos de artifício.

Nova vida para o Parque Olímpico
Inaugurado para os Jogos Olímpicos de 2016, a zona estava completamente irreconhecível apenas seis meses depois. Edifícios vandalizados, piscinas com água suja, salas com cadeiras amontoadas. Em fevereiro de 2017, o estádio do Maracanã estava abandonado, o relvado verde tinha secado e os painéis do parque aquático, da autoria da artista plástica Adriana Varejão, estavam rasgados.

Entre o aluguer do espaço e as obras necessárias, a organização do Rock in Rio desembolsou quase 235 mil euros do orçamento desta edição — 53,5 milhões de euros, o maior valor de sempre.

Quando as portas do festival se fecharem, a 24 de setembro, começa um novo desafio: manter tudo intacto e cuidado até daqui a dois anos ou até aparecer um novo projeto.


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