Na pele de aluno - O ensino de ontem e o ensino de hoje

DO TEXTO:

Dizer-se que antigamente os estudantes eram todos uns santinhos, que nada faziam nas aulas de brincadeira, não é bem verdade. Havia isso sim, uma compostura mais equilibrada, consequência do próprio respeito que os professores passavam dentro da sala. Um dos paradigmas dessa forma de conduzir um tempo de aula chama-se Álvaro Leal Monjardino, na disciplina de História. Ria quando era de rir, brincava quando era de brincar, mas sempre com aquela distância de respeito entre o professor e o aluno, não dando azo a que se ultrapassassem marcas indevidas.  Para isso também sabia como nortear os alunos para uma aula que não se tornasse maçuda, adicionando a sua importante forma de explicar a matéria com aquele “ex professo” que sempre o caracterizou. E, nos seus escritos, publicados em jornais do arquipélago, verificava-se essa tendência, desta feita para o leitor ficar bem elucidado.


Mas, claro está, que nem todos são iguais. Por exemplo, tive o maior divertimento, por vezes abusivo (eu e outros companheiros), na aula de português ministrada pelo padre António Manuel Rocha. Estava na ilha de São Miguel e creio que já não faz parte do rol dos vivos. Fica-me a dúvida. Continuando: quando o padre Rocha saia da sala para comer um chocolatinho (gostava muito daqueles que vinham lá dos americanos) ou para ir fazer uma das suas necessidades fisiológicas, era uma balbúrdia naquela aula. Óbvio que, começando por mim e por outros mais virados para a “desordem”, altura houve em que nos excedemos e o diretor da escola teve que tomar as suas medidas de ordem disciplinar, sobretudo em relação a uma noite em que se apagaram as luzes e as mocinhas começaram aos gritos, com medo de serem “molestadas”. Nessa mesma noite, quando o Padre Rocha reentrou na sala a primeira coisa que disse foi “Carlos, para fora da sala”. Depois, seguiram-se mais três, indicados pelas mocinhas ainda “assustadas”.


O tempo passou e eis que, em 1971, entro em A União pela mão do meu amigo José Daniel Macide. E quem era o administrador? Padre António Manuel Rocha, ainda lecionando, coisa que ele gostava de fazer e manda a verdade dizer que sabia de português. Em A União fomos sempre amigos. Contudo, quando se pedia autorização para fazer no DI uma zincogravura (saudades do Mestre José Vieira. Cheguei à fala com ele no Canadá), era um penar.  Que dificuldade para arrancar dali autorização para essa mesma despesa.  Quando fui para São Miguel chefiar a redação do Jornal do Desporto, o Padre Rocha estava na altura na Ribeira Grande e sempre que vinha a Ponta Delgada entrava no Açoriano Oriental para me dar um abraço. Um dia, por brincadeira, até lhe disse: aqui já não se usa zincogravura. A resposta: “Carlos, és sempre o mesmo”. E lá me deu um abraço, foi cumprimentar o Gustavo Moura e saiu feliz e contente.

Escrevi este artigo em função do que vi em tempos idos na minha curta passagem por São Paulo e quando me dirigia para casa após o almoço. O ônibus (autocarro para os portugueses) vinha pejado de jovens estudantes que não pagam passagem, tal como eu por já ter mais de 65 anos de idade (aqui a velhice a ser beneficiada). Ali dentro, perante o incómodo dos idosos que viajavam, mais parecia um “bando de piratas”, com gestos obscenos e um palavreado impróprio. O governo ajuda os estudantes nos transportes, mas eles estão-se marimbando que, mais tarde, possam ficar sem essa regalia mercê de tanta insolência dentro dos ônibus. Aliás, nas escolas fazem o mesmo e até se agridem publicamente, sobretudo os femininos por ciúmes. Nem os professores escapam a essa falta de educação (já vi cenas na televisão de autêntica fúria de alunos), sendo os mesmos agredidos física e verbalmente. No nosso tempo, nem esboçávamos um gesto de agressão a um professor. Bastava olhar para a foto do Salazar que estava colocada numa das paredes da sala.


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