'O Quarto Enorme', Livro em prosa de E.E. Cummings, pela primeira vez em Portugal

DO TEXTO:

Livro em prosa de E.E.Cummings com ilustrações do autor, pela primeira vez em Portugal

Lusa

"O Quarto Enorme", de E.E. Cummings, considerado o mais notável trabalho em prosa do poeta e uma das obras de referência sobre a primeira guerra mundial, vai ser publicado pela primeira vez em Portugal, pela Livros do Brasil.

O livro, de acordo com o anúncio da editora, foi escrito durante a Grande Guerra de 1914-1918, altura em que o norte-americano E.E. Cummings era voluntário em França, como condutor de ambulâncias, e foi preso durante três meses, em 1917, acusado de traição.

Foi sobre essa experiência que E.E. Cummings escreveu este livro, que a chancela da Porto Editora vai publicar na quinta-feira, 11 de maio, numa edição baseada na versão datilografada, ilustrada com os desenhos feitos pelo autor e de acordo com os critérios que o próprio estabeleceu.

Exemplo disso é o "singular sistema de pontuação utilizado" pelo escritor, respeitado nesta edição, que se caracteriza por ausência de espaços a seguir às vírgulas e outros sinais de pontuação, assim como o uso que é dado ao travessão, criando translineações inesperadas ou substituindo os parágrafos, e outras singularidades que traduzem desvios às normas, conforme é explicado na introdução da obra.

"A presente versão portuguesa retoma o mais fielmente possível a edição de 1978, preparada por George Firmage, por muitos considerado o `bibliógrafo oficial` de Cummings, tendo por base a versão definitiva pessoalmente datilografada pelo autor para corrigir as omissões e alterações das versões anteriormente publicadas", lê-se numa nota escrita pelo tradutor, José Lima, divulgada com a apresentação da obra.

O que aconteceu é que quando o livro foi publicado pela primeira vez em 1922, Cummings não se encontrava nos Estados Unidos da América e, ao ler o exemplar que lhe foi enviado, ficou de tal modo enfurecido que exigiu ao editor que o livro fosse surpimido.

Com efeito, a primeira edição e as que se seguiram (de 1928 e de 1934) tinham não só `corrigido` a pontuação como tinham traduzido e `melhorado` (ou censurado) o francês de Cummings, conta José Lima, que explica que "a subversão das normas habituais da pontuação" não é "inocente", por pretende criar "uma mancha tipográfica compacta, onde as palavras se comprimem e se justapõem, sem porosidades nem clareiras, de certo modo espelhando o mundo concentracionário da narrativa, onde as pessoas se amontoam quase sem espaço para respirar".

Cummings narra uma história de sofrimento e injustiça, contada com humor e com a "exuberância linguística" característica daquele que é considerado um dos mais importantes poetas norte-americano do século XX, explica a editora.

"Não há neste relato autobiográfico nada de heroico ou grandioso", em que a primeira guerra mundial não passa de um eco distante e em que "as personagens formam uma galeria grotesca e insignificante, dominadas por pequenas autoridades mesquinhas conduzidas apenas por regras burocráticas sem nenhum sentido nem ligação com o mundo exterior", refere o tradutor.

Segundo José Lima, Cummings usa "um tom ligeiro, com frequente recurso à ironia e ao sarcasmo", transformando "este relato de opressão e de injustiça numa história quase picaresca e bem-humorada".

"Estranhamente, poucos livros ilustrarão de forma tão exata como a mesquinhez dos pequenos poderes, a forma como qualquer tipo de autoridade aniquila a expressão individual e abafa a espontânea solidariedade humana", acrescenta.

Na introdução do livro assinala-se que, sendo muitas as obras de ficção que usaram como tema a Grande Guerra, este título de Cummings é "de certo modo inclassificável", porque não é uma ficção realista, mas também não é uma "memória de guerra".
"O Quarto Enorme" foi a primeira obra publicada do autor, e é classificada pela Livros do Brasil como "a expressão de um espírito irreprimível perante a brutalidade da guerra".

Edward Estlin Cummings

Poeta, ensaísta e dramaturgo, Edward Estlin Cummings nasceu no Massachusetts, em 1894, morreu em 1962, aos 67 anos, escreveu perto de três milhares de poemas, dois livros em prosa de caráter autobiográfico, peças de teatro, diversos ensaios e é apontado na história das letras anglo-americanas, como um dos principais inovadores da poesia em língua inglesa do século XX.

"XIX poemas", com tradução e notas de Jorge Fazenda Lourenço (1991), "Livro de poemas" (1999) e "eu: seis inconferências - Conferências Charles Eliot Norton 1952-1953" (2004), ambos traduzidos por Cecília Rego, são outros títulos de E.E. Cummings publicados em Portugal, todos pela Assírio & Alvim.
https://www.rtp.pt/noticias/cultura/livro-em-prosa-de-eecummings-com-ilustracoes-do-autor-pela-primeira-vez-em-portugal_n999933

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