Galpão VB - Artista Rodrigo Bueno e curador Gabriel Bogossian farão passeio de arte com público em torno da Vila Leopoldina

DO TEXTO:
Obra de arte Emboaçava, de Rodrigo Bueno, exposta no Galpão VB

Artista e curador fazem visita guiada a exposição e ao bairro da Vila Leopoldina


Alba Bittencourt
Portal Splish Splash
 

No dia 20 de maio, sábado, às 15h, o artista Rodrigo Bueno e o curador Gabriel Bogossian encabeçarão um passeio pela exposição Nada levarei quando morrer, aqueles que me devem cobrarei no inferno e pelo bairro da Vila Leopoldina, onde fica o Galpão VB. A entrada é gratuita e não é necessário realizar inscrição.

Bueno é responsável pelo site specific Emboaçava (lugar de passagem), única obra comissionada para a exposição. Utilizando grades de ferro de casas demolidas e pedaços variados da flora de São Paulo, o artista traz ao Galpão VB um fragmento de seu ateliê Mata Adentro, localizado no bairro da Lapa, vizinho à Vila Leopoldina.

Ambos os bairros fazem parte da região que, no período colonial, se chamava Emboaçava. Segundo o engenheiro e geógrafo Teodoro Sampaio, no livro O tupi na geografia nacional (1901), a palavra significa “a ação de atravessar, a passagem” e designava “um lugar, à margem do Tietê, vizinho de São Paulo, onde se passava o rio na estrada do sertão e onde se mandou levantar um forte ou tranqueira para defesa da cidade, no século XVI”. A construção do forte se destinou a proibir a travessia de indígenas, protegendo os invasores portugueses contra os ataques dos nativos. Os colonizadores, portanto, se apropriaram da palavra tupi ao mesmo tempo que corromperam a função do lugar a que ela se referia.

Histórias como essa, de invasões, proibições e desaparecimentos, perpassam Nada levarei quando morrer, aqueles que me devem cobrarei no inferno, que busca fazer uma espécie de etnografia das vítimas do desenvolvimento econômico. Emboaçava (lugar de passagem), em diálogo com outras obras da exposição, forma um espaço que busca presentificar os povos originários. No site specific de Rodrigo Bueno, o que vemos são resíduos e espectros dessa presença.

Saiba mais sobre o artista e o curador

Rodrigo Bueno
Trabalhando em instalações e objetos a partir de materiais como ferro, madeira e outros elementos orgânicos, Bueno reflete sobre a memória urbana através dos resíduos da cidade. Sua prática inclui a realização de oficinas e atividades colaborativas, além da coordenação do Ateliê Mata Adentro. Realizou as exposições individuais A Ferro e Fogo, na Galeria Marília Razuk, em São Paulo (2016); e o projeto solo na Art Bo, em Bogotá (2016); também participou das coletivas Transparência e Reflexo, no Museu Brasileiro da Escultura, São Paulo (2016) e Cruzeiro do Sul, no Paço das Artes, São Paulo (2015), entre outras. Vive e trabalha em São Paulo.

Gabriel Bogossian
Editor, tradutor e curador adjunto da Associação Cultural Videobrasil. Investiga em sua prática as representações do território e dos povos indígenas, frequentemente aproximando produção artística e acervos documentais. Foi curador das exposições Nada levarei quando morrer, aqueles que me devem cobrarei no inferno (Galpão VB, São Paulo, 2017), com Solange O. Farkas, Resistir, reexistir (Galpão VB, São Paulo, 2017), Cruzeiro do Sul (Paço das Artes, São Paulo, 2015) e Corpo Estranho (Oi Futuro Flamengo, Rio de Janeiro, 2014), com Luisa Duarte, entre outras. Como editor e tradutor, foi responsável por publicações junto às editoras Rocco, Universitária da UFPE, Hedra e ao Festival Videobrasil.

Saiba mais sobre a exposição
A Associação Cultural Videobrasil e a SP-Arte apresentam Nada levarei quando morrer, aqueles que me devem cobrarei no inferno, primeira exposição do projeto SP-Arte no Galpão VB. A mostra consolida a parceria iniciada em 2015, contribuindo para a expansão da feira e inserindo o Galpão VB no roteiro de suas exposições paralelas, com nomes consagrados no circuito das artes. Com curadoria de Solange O. Farkas e Gabriel Bogossian, a mostra apresenta trabalhos de Caetano Dias, Claudia Andujar, Miguel Rio Branco, Gisela Motta e Leandro Lima, Rodrigo Bueno, Rodrigo Braga, Runo Lagomarsino e Virginia de Medeiros.

Nada levarei quando morrer, aqueles que me devem cobrarei no inferno parte do pensamento do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, refinado observador da cultura de seu tempo que buscou, em seus filmes e textos, articular uma crítica às transformações sociais então em curso na Itália e um registro de certas práticas culturais que, segundo ele, estariam ameaçadas. O Evangelho segundo São Mateus (1964) e Appunti per una Orestiade Africana (1970) são exemplos de uma filmografia que ao mesmo tempo questiona o presente e presta uma espécie de homenagem a esse repertório cultural dissidente frente às novas formas hegemônicas que se impunham à heterogeneidade das culturas italianas.

A exposição toma partido desse pensamento, pretendendo atualizá-lo para o contexto brasileiro. Aqui, populações urbanas e povos da floresta seguem sob ameaça, seja de projetos de reforma urbanística que não levam em conta a necessidade de inclusão social, seja de empreendimentos de infraestrutura que inviabilizam de maneira irreversível modos de vida tradicionais. Nesse universo, as obras de Caetano Dias, Miguel Rio Branco e Virgínia de Medeiros, por um lado, e de Claudia Andujar, Gisela Motta e Leandro Lima, Rodrigo Bueno, Rodrigo Braga e Runo Lagomarsino, por outro, buscam produzir relatos sobre o ocaso dessas práticas e modos de vida a partir de uma perspectiva crítica e heterodoxa.

Se a reflexão de Pasolini sobre um patrimônio cultural que desaparece é um ponto de partida, o título Nada levarei quando morrer, aqueles que me devem cobrarei no inferno – emprestado da obra de Miguel Rio Branco que integra a exposição – nos aproxima de uma ideia de finitude ou morte. Tomada em seu sentido lato, essa ideia perpassa as outras obras reunidas aqui e contribui para evocar, ao lado da experiência do transe e do sexo, um lugar de resistência de formas de vida que permanecem, insistindo em afirmar sua força e, sobretudo, sua diferença.

SERVIÇO
O QUE: “Ativação de Emboaçava (lugar de passagem), de Rodrigo Bueno”, com Rodrigo Bueno e Gabriel Bogossian. Programa público da exposição Nada levarei quando morrer, aqueles que me devem cobrarei no inferno
QUANDO: 20 de maio, sábado, às 15h
ONDE: Galpão VB | Associação Cultural Videobrasil (Av. Imperatriz Leopoldina, 1150, São Paulo, SP)
Entrada gratuita

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