Provavelmente não há português com mais de dez anos (dando uma margem divertidamente alargada) que não conheça o fado eternizado pela diva do seu género, Foi Deus. Não sei, não sabe ninguém / Por que canto o fado / Neste tom magoado / De dor e de pranto / E neste tormento / Todo o sofrimento / Eu sinto que a alma / Cá dentro se acalma / Nos versos que canto // Foi Deus / Que deu luz aos olhos / Perfumou as rosas / Deu oiro ao sol / E prata ao luar / Foi Deus / Que me pôs no peito / Um rosário de penas / Que vou desfiando / E choro a cantar // E pôs as estrelas no céu / E fez o espaço sem fim / Deu o luto às andorinhas / Ai, e deu-me esta voz a mim Composta por Alberto Janes – que tem também em seu nome nada mais nada menos do que A Casa da Mariquinhas, É ou Não É e Oiça Lá Ó Senhor Vinho, e gravada por Amália Rodrigues em 1956, tornou-se numa das mais belas canções portuguesas. Regravada e cantada por tantos fadistas ao longo destes sessenta anos, toca em algum lugar especial do coração e da mente porque compara o dom divino da voz e do canto ao dom dado às flores, aos pássaros, ao sol e à lua. Atrevo-me a dizer que emociona até os mais céticos, quanto mais não seja pelo tom carregado e a expressão sincera que os intérpretes têm passado. A curiosidade que compartilho hoje passa por ter descoberto recentemente o efeito que esta canção teve também além-mar. Descobri que o Brasil dos anos 50 e 60 não só conhecia Amália Rodrigues e a reverenciava, como queria partilhar da sua exuberância e da emoção do Fado Português. Foi por acaso que cheguei à versão da Ângela Maria, proposta pelo YouTube:
Gostei tanto que comecei a pesquisar. Descobri que a cantora, hoje com 87 anos, havia gravado esta canção em 1962! E que o estilo musical que pensei ser Bolero era na verdade o Samba-Canção e estava muito em voga na altura.
Por esse mesmo motivo começaram a aparecer-me mais sugestões de outros artistas cantando o mesmo tema. À Ângela Maria seguiu-se Nelson Gonçalves, terceiro maior vendedor de discos da história do Brasil, em 1970:
As descobertas não pararam mais e chegaram até bem perto de hoje. O que parecia ser um achado tornou-se na verdade uma bela lição: a lusofonia já deu as mãos com muito mais força e o ritmo que os portugueses pensam não ter espaço no país do Samba o tem na verdade muito mais do que imaginamos.
Hoje vemos António Zambujo e Carminho percorrendo de novo os passos de Amália e torço verdadeiramente para que estas pontes não voltem a ruir. Deixo-vos com outras versões brasileiras desta canção maravilhosa e peço para que se lembrem tantas vezes como eu que ‘A minha pátria é a língua portuguesa’.
Provavelmente não há português com mais de dez anos (dando uma margem divertidamente alargada) que não conheça o fado eternizado pela diva do seu género, Foi Deus.
Não sei, não sabe ninguém / Por que canto o fado / Neste tom magoado / De dor e de pranto / E neste tormento / Todo o sofrimento / Eu sinto que a alma / Cá dentro se acalma / Nos versos que canto // Foi Deus / Que deu luz aos olhos / Perfumou as rosas / Deu oiro ao sol / E prata ao luar / Foi Deus / Que me pôs no peito / Um rosário de penas / Que vou desfiando / E choro a cantar // E pôs as estrelas no céu / E fez o espaço sem fim / Deu o luto às andorinhas / Ai, e deu-me esta voz a mim
Composta por Alberto Janes – que tem também em seu nome nada mais nada menos do que A Casa da Mariquinhas, É ou Não É e Oiça Lá Ó Senhor Vinho, e gravada por Amália Rodrigues em 1956, tornou-se numa das mais belas canções portuguesas.
Regravada e cantada por tantos fadistas ao longo destes sessenta anos, toca em algum lugar especial do coração e da mente porque compara o dom divino da voz e do canto ao dom dado às flores, aos pássaros, ao sol e à lua.
Atrevo-me a dizer que emociona até os mais céticos, quanto mais não seja pelo tom carregado e a expressão sincera que os intérpretes têm passado.
A curiosidade que compartilho hoje passa por ter descoberto recentemente o efeito que esta canção teve também além-mar. Descobri que o Brasil dos anos 50 e 60 não só conhecia Amália Rodrigues e a reverenciava, como queria partilhar da sua exuberância e da emoção do Fado Português.
Foi por acaso que cheguei à versão da Ângela Maria, proposta pelo YouTube:
Emílio Santiago – 1998
Roberta Miranda – 2001
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