Amália e o público italiano: um encontro "mágico"

DO TEXTO:

O investigador Frederico Santiago, que coordenou a edição do triplo CD “Amália em Itália”, qualificou como “mágico” o encontro da artista com o público italiano, que "a preferiu a todos os outros intérpretes estrangeiros desse tempo".

Foi mágico o encontro de Amália com o público italiano, que esgotava os seus espetáculos, muito além da capacidade dos teatros, com pessoas sentadas nos corredores laterais, disse Frederico Santiago que, paralelamente à pesquisa em estúdio, consultou a imprensa transalpina da época.

A "loucura italiana" por Amália Rodrigues (1920-1999) coincide com a explosão da música do mundo em Itália. “Foi quando surgiu em Itália a Bossa Nova, e vão lá cantar Vinicius de Moraes e Maria Bethânia, que chegaram mesmo a fazer concertos com Amália”.

O agente de Amália em Itália era Franco Fontana, que organizava, no Teatro Sistina, em Roma, concertos com "grandes nomes da música internacional", como as norte-americanas Odetta e Joan Baez.

Mas Amália é a mais amada e é aquela que os italianos adotam, nem o Charles Aznavour ou a Ella Fitzgerald conseguiram o sucesso que Amália conseguiu.

Frederico Santiago referiu que a carreira da criadora de "Povo que lavas no rio", “teve uma dimensão que em Portugal não se imagina”, e sublinhou o facto de grande parte desse público italiano ser jovem.

A Amália, com o enorme magnetismo que tinha, captava as plateias e imediatamente percebe que este público, muito jovem, como sublinham as críticas nos jornais italianos, aproximava-se do 'folk'. Assim adota também o repertório popular italiano, como aliás tinha feito, na década de 1950, noutros países, como no México, onde interpretou ‘rancheras’ ou em Espanha, com o 'flamenco'.

Valéria Mendez, ex-professora de Língua e Cultura italianas no Conservatório da Madeira, disse, por seu turno à agência Lusa que foi em Itália que se tornou 'amaliana' e referiu a “enorme euforia italiana” pela fadista.

Valéria Mendez estudava em finais da década de 1970 na Universidade de Perúgia quando se apercebeu da “extraordinária popularidade” da artista, que “os italianos adotaram como sua”.

A Amália Rodrigues em Itália atuava em todos os principais teatros das grandes cidades, mas também nas outras cidades e localidades, fazendo o circuito dos artistas italianos. Ela foi, absolutamente, uma exceção.

Frederico Santiago declarou que como “Amália dizia, em Itália havia uma loucura por ela. ‘La follia per la Rodrigues’, foi enorme e foi uma coisa quase inacreditável como aquele país adotou a Amália”.

Amália Rodrigues chegou a apresentar-se em mais de 50 concertos por ano, em Itália, “o que é notável”, tanto mais que a criadora de “Primavera”, atuava noutros palcos internacionais.

A carreira concentrou-se muito nos anos 1970, e coincidiu com aquela fase em que Amália cantou muito folclore, tanto português como espanhol, e as coisas do Alberto Janes, folclorizadas, que entraram naquele espírito da época, com o ‘folk’ a atingir o máximo, Temos uma Amália quase hippie a cantar com uma liberdade que até aí era um bocadinho desconhecida, e é interessante ver como a Itália libertou um bocadinho a pose da Amália, em palco.

O estudioso refere que a esta situação não é estranho o facto de coincidir com o fim dos microfones fixos em palco, o que permitia um contacto “ainda mais direto com o público” que conhecia bem o repertório da Amália, “como se fossem portugueses”.

Amália Rodrigues, em Itália, “não se limitava a ir apenas às cidades, mas era tal a loucura, que ia aos mais recônditos lugares. Eu acho que ela cantava em determinada cidade, iam ouvi-la, e depois convidavam-na para ir aqui ou ali, daí achar que “é impossível saber todos os sítios onde cantou”.

“Amália manteve essa relação de paixão por Itália, o país estrangeiro de que mais gostava, como afirmou várias vezes, e a Itália por ela, até ao final da carreira”, disse Santiago.

O último concerto de Amália Rodrigues, em Itália, realizou-se em Nápoles, em 1994, com o cantor Roberto Murolo.

O triplo CD “Amália em Itália", que junta gravações inéditas e os dois álbuns gravados pela fadista em Roma, nos anos 1970, nunca publicados em Portugal, é editado no próximo dia 07 de abril.

Um dos álbuns que vai ser agora editado em CD, intitula-se “A Una Terra Che Amo”, e segundo Valéria Mendez, era utilizado como material didático na cadeira de Literatura Italiana em diferentes universidades transalpinas, e citou o catedrático Armando Biselli, autor, entre outras obras, de "Il Rischio dell'Essere (poesia come suggerimento)".

A professora referiu o facto de Amália ter gravado em língua italiana e em quatro dialetos transalpinos, destacando a gravação de “Canto delle Lavandaie del Vomero”, que é “apontada como a primeira canção italiana, como é entendida nos cânones atuais” e que faz parte deste álbum que foi produzido pelo etnomusicólogo Franco Fontana.

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