Em livro, pai faz relato contundente sobre criação de filho autista

DO TEXTO:

 MAURÍCIO MEIRELES
 DE SÃO PAULO

Em dado momento, o pai do menino autista questiona-se: queria ter um filho assim? Não. Deixaria de ter se a ciência pudesse fazer o diagnóstico ainda no útero? Com certeza. Ainda assim, ama a criança? Sem dúvida, mais do que qualquer coisa.

Esse breve questionamento resume todo o relato de "Meu Menino Vadio", do jornalista Luiz Fernando Vianna, sobre a relação do autor com Henrique, de 16 anos, que tem autismo. É um olhar contundente e sombrio, mas que resvala vez ou outra nas suas pequenas alegrias.

Vianna brinca dizendo ser esse um livro de "anti-ajuda". Diferentemente do que ocorre em relatos motivacionais, o tom que atravessa a obra é cru.

"Sempre imaginei contar essa história de maneira mais crua. Sempre me incomodaram esses livros falando que o autista é um anjo, uma bênção. É um conforto, mas não tem muita relação com a realidade. E não acho que ajude. O Henrique tem uma história peculiar de dificuldades, criadas por mim e pela mãe dele", diz.

O escritor se refere ao divórcio conturbado do casal. O livro começa com a ida da mãe com seu novo marido e Henrique, para a Austrália.

Vianna e a ex-mulher ainda brigavam na Justiça. Em dado momento, de acordo com o relato, ela pediu para ficar com a criança em um dia que não era o seu –mas já tinha as passagens compradas para se mudar com o novo marido.

Em um plantão judicial, na véspera, a mãe conseguiu uma liminar que permitia a viagem do garoto.

O menino nunca mais voltou integralmente ao Brasil. Hoje, vive um ano nos Estados Unidos, com a mãe, e outro no Brasil, com o pai. Sobre essa situação, Vianna é crítico consigo mesmo também.

"Ela não é vilã, e eu mocinho. Contribuí para esse desenvolvimento que eu acho nefasto para a vida do Henrique. Escrever só faria sentido se eu fizesse um julgamento de mim mesmo", diz o autor.

Outro ponto destacado pelo relato é a visão de alguém de classe média, acostumado a seus privilégios, que se viu na necessidade de lutar pelos seus direitos e os do filho.

"Acaba o privilégio de você ser um riquinho que vai fazer seu filho feliz como você imaginava. Mesmo que eu tivesse muito dinheiro, nunca mais teria uma vida de paz."

Com um olhar muitas vezes pessimista e cercado de pensamentos sobre a própria morte, Vianna dedica o livro a sua segunda filha, de seis anos. Espera que, ao crescer, ela possa entender o pai e o irmão.

MEU MENINO VADIO
AUTOR Luiz Fernando Vianna
EDITORA Intrínseca
QUANTO R$ 44,90 (208 págs.)
LANÇAMENTO nesta quinta (2), às 19h; Livraria da Travessa, r. Visconde de Pirajá, 572, Rio, tel. (21) 3205-9002

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