Do jornalista João Rocha

DO TEXTO:


A noite de arromba
 para D. Tormentina



                                                                                 
                                                                                

Dona Tormentina anda excitadíssima. Esta 5ª feira, Dia das Amigas, promete ser de arromba.
O caso não é para menos. Casada com o senhor Malaquias há mais de 40 anos, e com o casal de filhos radicado na América, a sua vida diária como dona de casa é tudo menos inspirativa.
As tarefas domésticas ocupam-lhe grande parte da existência e o marido, já reformado, não presta qualquer tipo de ajuda, exigindo, ainda por cima, que a televisão da sala esteja sempre sintonizada na Sport TV.
Todavia, o Dia das Amigas é sagrado para D. Tormentina. “Malaquias, vou colocar mais água na feijoada do almoço de 5ª feira e, para jantares, basta aquecer o tacho”, foi a ordem, sem hipótese de contestação, dada ao marido.
De resto, ainda está de pé atrás com o senhor Malaquias, que na 6ª feira passada andou de ressaca pelos amigos e, ao sonhar, deixou escapar umas frases comprometedoras sobre as habilidades dançantes de pequenas com pronúncia estrangeira.
Mas um dia não são dias e D. Tormentina concentra a atenção e entusiasmo no jantar de quinta-feira. Ao todo, serão 27 mulheres à mesa, com idades entre os 55 e 71 anos (D. Carlota celebra 72 no sábado seguinte), não faltando temas para um serão animado.
Espera conversar, entre as garfadas, com todas as suas amigas, embora separadamente porque há que cortar na casaca de algumas delas sem que nada se note.
Noutras situações, não terá medo de ser direta, ou assertiva como agora ouve dizer. A permanente que a Mariazinha fez ao cabelo ficou pavorosa, sendo que as amigas têm a obrigação de chamar à atenção para este tipo de coisas.
A ementa é outra aventura. Exigiu coentros na sua canja, salsa por cima do peixe cozido e levará para o restaurante a garrafa térmica com o inseparável chá de macela.
Temas obrigatórios a debater: o Heitor deve ou não casar com a Gisela na novela brasileira das 20H27 da TVI, a necessidade de uma lei para proibir os maridos de ressonarem e, por último, mas não menos importante, a urgente intervenção do Governo com vista a aniquilar as baratas nos esgotos.
E acresce uma garrafa de água mineral vazia para introduzir o digestivo (aguardente de cana) que tem direito face aos 15 euros que pagou pelo bilhete do jantar.
Com dose dupla de feijão, nada como acalmar os gases intestinais do senhor Malaquias. Mulher prevenida evita cheiros maus…

joaorochagenio@hotmail.com

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