Cantora de fado portuguesa grava disco com músicas de Tom Jobim

DO TEXTO:

Carminho prova que uma cantora de fado pode interpretar com galhardia a música de uma estrela da bossa nova que influenciou o jazz

A melhor homenagem que se faz a um compositor é a gravação frequente e de maneira inventiva de suas músicas. Cantores como Chico Buarque, Elis Regina, Nara Leão e Maria Bethânia cantaram de maneira esplêndida a arte de Tom Jobim. O CD “Carminho Canta Tom Jobim” sugere que o maestro-pianista pode ser interpretado, com certo brilho, por uma cantora de fado.

Carminho transforma as músicas de Tom Jobim, que no geral não contêm o lamento da música portuguesa, em fado? Há, aqui e ali, o tom do fado (o blues de Portugal). A cantora portuguesa, que deve ter ouvido outros artistas, mantém o tom da bossa nova, mas é uma intérprete diferente. Não repete inteiramente as cantoras anteriores e sua voz não cabe no figurino bossa-novista (aproxima-se, no máximo, de Elisete Cardoso e, por vezes, de Elis Regina). É provável que o músico que encantou os americanos ficasse agradado de sua interpretação.

“O que tinha de ser”, “Inútil paisagem”, “Estrada do sol” (com Marisa Monte, ótima cantora, quando aceita repertórios de primeira linha, como no caso), “Retrato em branco e preto”, “Triste”, “Meditação”, “O grande amor”, “Falando de amor” (com Chico Buarque — “fadista” dos trópicos), “Wave”, “Sabiá”, “Luiza”, “Modinha” (com Maria Bethânia, cantora de estilo tão marcante que merece figurar na lista das cantoras-intérpretes, quer dizer, não repete interpretações de outros artistas. “A felicidade”, “Por causa de você” são as músicas cantadas, às vezes com precisão e sem hesitação, por Carminho.

O que não se deve esperar é que a portuguesa cante as músicas de Tom Jobim como se fosse cantora brasileira. Não há nem aquela voz explosiva de Elis Regina nem aquela suavidade que chega a ser quase brejeira de Nara Leão. O trunfo do CD é que, sem descaracterizar a música do compositor patropi, Carminho deu-lhe uma nova dicção ou interpretação.

Registre-se o acompanhamento musical, de alta qualidade, de Paulo Jobim (violão), Daniel Jobim (piano), Jaques Morelenbaum (violoncelo) e Paulo Braga (bateria). A gravadora Biscoito Fino fez um trabalho de mérito.

O CD é uma bela homenagem aos 90 anos de nascimento de Tom Jobim — músico tão (ou mais) importante quanto João Gilberto.

       


in-http://www.jornalopcao.com.br
POSTS RELACIONADOS:
1 Comentários

Comentários