Jean Monlevade (V)

DO TEXTO: O distrito de João Monlevade, foi crescendo concomitantemente ao crescimento da Usina; foi-se planejando uma infraestrutura social para os operários..
Gravura de Jean Monlevade
 
João Monlevade
1817 – 2017

Dois Séculos de Vida Operária > Mais que uma biografia, uma historia de vida


Nasce o Distrito de João Monlevade


Construída para ser a primeira Cidade Operária do País, João Monlevade possui como elemento fundamental de sua identidade a atividade siderúrgica.

A comunidade, criada pela Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, estabelecida como distrito do município Rio Piracicaba em 27 de dezembro de 1948, teve por um bom tempo seu desenvolvimento caracterizado pelo crescimento de dois povoados.

Um deles, na região mais próxima à usina, ao longo do rio Piracicaba, onde surgiam cada vez mais conjuntos habitacionais, todos sob a supervisão da Belgo-Mineira.

E outro, a poucos quilômetros de distância, na região conhecida como Carneirinhos, onde se notava uma expansão nas atividades comerciais para atender às necessidades da população que trabalhava na usina.

O distrito de João Monlevade, foi crescendo concomitantemente ao crescimento da Usina; foi-se planejando uma infraestrutura social para os operários o que se fez colocar nas mãos do talentoso urbanista Lúcio Costa, aquele quê, doravante atenderia ao pedido do então Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, para junto com o arquiteto Oscar Niemeyer, fazer um projeto da nova capital do Brasil: Brasília, no ano de 1960.

Aos poucos foram construídos: redes d’água e esgoto; estação de tratamento d’água; aberturas de ruas; calçamentos com pedras e paralelepípedos; iluminação de ruas com postes de madeira; rodovias vicinais; centros comerciais; escolas; hospitais; hotéis e um grandioso e majestoso cassino; clubes; cinemas; igreja e outras estruturas sociais, a bem de toda uma comunidade que soerguia majestosamente, no Vale do Rio Piracicaba.

Assistência Médica: Mais Um Marco Na História da Cidade


A Assistência Médica foi tão levada a sério que em 1952, foi inaugurado o Hospital Margarida, considerado um dos melhores do Brasil, na época.

Especial atenção também em Monlevade foi dada à assistência médica e educacional.

Na área médica, desde o início das obras foram montados ambulatórios e centros médicos e, em 1952, foi montado o moderno Hospital Margarida.

Considerado um dos mais bem equipados do Brasil, o hospital chamou a atenção do então governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitscheck, que, durante a inauguração, teria chamado seu secretário de saúde e dito: "construa um desses em Belo Horizonte, que seja a quarta parte deste...".

Leiteria - Fornecimento de leite aos filhos dos operários de forma gratuita


Preocupada com o grande consumo de leite sem tratamento - a moderna indústria de laticínios no Brasil surgira já em meados dos anos 20, mas restringindo-se às grandes cidades - a empresa decidiu criar sua própria Usina de Beneficiamento de Leite, através de processos de pasteurização.

Até então, alertavam os médicos da região, grande parte dos índices de mortalidade infantil devia-se ao consumo do leite in natura, que é um grande veículo de disseminação de doenças, como a tuberculose.

Leite e manteiga eram fornecidos a um preço subsidiado aos funcionários da Belgo-Mineira e às crianças de até um ano de idade era fornecida gratuitamente uma mamadeira de leite enriquecido por dia.

A Educação foi também marco no crescimento da cidade, e foram construídas 3 escolas primárias e uma profissionalizante, que iniciaram o funcionamento em 1942 e em 1951 chegou a parceria do SENAI – ( Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).

Na área de assistência educacional foram construídas três escolas primárias e uma profissionalizante, que começou a funcionar em 1942 e em 1951 passou a contar com a parceria do SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.

As aulas eram ministradas por engenheiros da Belgo-Mineira e os alunos que nela se formavam geralmente estavam aptos a desenvolver atividades profissionais tanto na própria Belgo, como em qualquer outra empresa de grande porte no país.

O nível de aprendizado era tão bom que, costumava-se dizer, quando os alunos de Monlevade iam estagiar em outras escolas do SENAI, em São Paulo, Rio e outros estados, em comparação com outros alunos, estavam aptos até a lecionar.

Estes alunos estariam voltados para alimentar a Usina com profissionais de qualidade, bem como outras empresas no âmbito nacional.

A qualidade de vida dos funcionários da Belgo-Mineira era complementada por uma grande rede de lazer.

Um estádio de futebol e dois times - o Metalúrgico e o Belgo-Minas - além de clubes recreativos - o Social, o Ideal, o União Operária e o Grêmio Esportivo - eram mantidos ou subvencionados pela empresa.

Esses benefícios eram ainda complementados por obras sociais de grande importância que, desde 1942, eram promovidas pela Caixa Beneficente de Monlevade, criada pelos próprios funcionários.

Além disso, a partir de 1955, através da Fundação Félix Chomé, passou a ser prestado auxílio especial para funcionários e seus filhos na área educacional, através da cessão de bolsas de estudo para cursos profissionais e aperfeiçoamento técnico em universidades.

A Caixa Beneficente de Monlevade, aliada pelos próprios operários, promovia benefícios complementares na área social, com fornecimentos de mantimentos e outros congêneres de consumo doméstico.

Padre Higíno


Havia um padre! O Cônego José Higino de Freitas, nascido em Barra Longa, a 54km de João Monlevade, aos 23 de dezembro de 1912, ali passando sua infância. Ele, de família tradicionalmente religiosa, entrou para o seminário de Mariana, fazendo o curso de Humanidades e o de Filosofia.

Ordenado sacerdote aos 25 de outubro de 1936, em Roma, exerceu seu ministério em Santa Bárbara e João Monlevade, na qual cidade chegou em 1945 para viver a maior parte de sua vida religiosa.

Instalou nela, em 1948 a Paróquia de São José Operário. Deve-se honrosamente ressaltar que nos 30 anos de vida religiosa em João Monlevade, Padre Higino, como era conhecido de todos, deixou dois grandiosos legados: a formação da consciência religiosa de seu povo e a educação da juventude e neste naipe, fundou e instalou na cidade em 1955 e com a ajuda da Belgo-Mineira e da Arquidiocese de Mariana, a Escola Municipal Cônego Higino; escola esta que foi a sucessora do antigo Ginásio Monlevade, que foi enfim, a Escola Estadual de João Monlevade.

Igreja Matriz São José Operário


A Matriz São José Operário, é um dos símbolos da cidade.

Construída durante a 2º Guerra Mundial pela Belgo e doada anos depois a prefeitura.

Na frente da igreja há uma imagem de um bispo com as mãos em formato de um V. A escada, externa à Igreja e que dá acesso a mesma, é em formato de cálice. Também faz parte do entorno, uma gruta dedicada à Nossa Senhora de Lourdes.

No dia 25 de Setembro de 1948, a comunidade cristã Monlevadense inaugurava a Matriz de São José do Operário no bairro Tieté, projetada pelo arquiteto Yaro Burian, no estilo “V Disfarçado” por solicitação da Companhia Siderúrgica Belgo Mineira(CSBM).

Padre Higino preocupado que era com o seu rebanho, sobretudo com os jovens criou e instalou o Ginásio Monlevade, em 1955, sendo o primeiro estabelecimento de ensino médio do município, subordinado ao sistema arquidiocesano de ensino e, a partir de 1965, foi integrado à rede estadual de ensino, com o tradicional nome de Colégio Estadual de João Monlevade. Nele, Padre Higino foi seu diretor até 1971.

A Vila Operária - Segunda Vila Operária da América Latina


Com a siderúrgica de Monlevade em funcionamento, foi necessária a construção de toda uma estrutura urbana a fim de receber os novos moradores que viriam ocupar os empregos oferecidos pela usina.

Em 1934, foi realizado um concurso no qual arquitetos de todo o País puderam elaborar projetos para a futura “cidade operária”. O engenheiro Louis Jacques Ensch foi o escolhido para idealizar o distrito que viria a se tornar a cidade de João Monlevade e planejar e organizar a usina, definitivamente instalada no ano de 1935.

A distribuição da população nos espaços do distrito levava em conta a ocupação desempenhada pelo trabalhador, além do tamanho de sua família.

Em 1938, estava prevista a construção de 300 moradias, preferencialmente destinadas aos trabalhadores casados.

Década de 40 – inicio da construção da Vila Operária ao lado da Usina, em estilo neoclássico, instalando-se ali posteriormente clubes, escolas, lojas, bares, farmácias, assistências médicas, que atendia aos trabalhadores e seus familiares; uma Emissora de Rádio – a Rádio Cultura de João Monlevade, e o magnífico Cine Monlevade.

Auditório do Cine Monlevade - Década de 40


Por aqui passaram os maravilhosos épicos do cinema hollywoodiano, como por exemplo: Ben-Hur com Charlton Heston; O Dólar Furado, com Giuliano Gemma; My Name Is Pecos; Tarzan; Sete Raios de Assur; Django; 20 mil Léguas Submarinas, um filme baseado no livro do grande escritor de ficção científica Júlio Verne; Hércules; Sanção e Dalila; Davi e o Gigante Golias; Salomão; Quo Vadis; Queda do Império Romano; A Noviça Rebelde, Tempos Modernos com o inesquecível Charles Chaplin; O Garoto; e muitos outros faroestes que fizeram sucesso na  época de ouro do cinema.

Bairro Vila Tanque


O bairro Vila Tanque foi um dos primeiros a ser construído junto com o bairro Areia Preta; Cidade Satélite, Baú, e outros.

A mão-de-obra seja ela no nível operacional ou administrativa, necessitam também do lazer e, por conta disso, o Dr. Louís Ensch implementou a construção do primeiro clube, o Social Clube, este direcionado aos “gringos”, que da Europa vieram para ensinar a nossa mão-de-obra, ainda desqualificada para trabalhar na fabricação do aço e de outros setores, dentro da Usina, tais como: Elétrica, mecânica industrial, marcenaria, etc.

O Social Clube foi o primeiro a ser construído em 1945; posteriormente surgiram outros dentro da Vila Operária, tais como: Ideal Clube; Grêmio Esportivo Monlevadense e o Clube de Caça e Pesca; e numa Monlevade mais adiante, A ACM - Associação Cristã de Moços, em Carneirinhos.

Aos poucos, com o passar dos anos, acompanhando a expansão da empresa, a cidade foi mudando de lugar. Com isso, o bairro Carneirinhos que antes era bastante desacreditado,  foi recebendo o seu desenvolvimento urbano e social, diante das necessidades prementes da população que por ora também crescia.

Em 1970 foi feita a construção do canal sobre o córrego de Carneirinhos;  em 1980 já era um conglomerado de comércio e casas; e, hoje, João Monlevade está incluída e atenta ao moderno progresso tecnológico, faltando inclusive até espaço físico para transito, devido ao seu enorme crescimento demográfico, bem como o de veículos.

Crescera a população; o comércio; construções de casas; enfim uma movimentação populacional que politicamente falando já se via no pensamento de uma emancipação político-administrativa, e, a bem da verdade esta foi a grande cartada para que a cidade entrasse definitivamente para o seu desenvolvimento autônomo.

A Seguir: Jean Monlevade (VI) 


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