Jean Monlevade (III)

DO TEXTO: Em 1952, A Belgo-Mineira adquire o controle acionário da Samitri, empresa de mineração, fundada em 1939, com jazidas disponíveis para exploração...
Jean Monlevade

 
João Monlevade
1817 – 2017

Dois Séculos de Vida Operária > Mais que uma biografia, uma historia de vida


Discurso pronunciado pelo Dr. Edmundo da Luz Pinto, em nome da Diretoria da Cia. Belgo-Mineira, no baile de gala realizado no Social Clube de Monlevade, em 15 de novembro de 1952:

“Meu caro Dr. Ensch:
Os nossos colegas de Diretoria incumbiram-me de testemunhar-vos nossa calorosa solidariedade às justíssimas homenagens que estão celebrando o vosso 25º aniversário de chegada ao Brasil e de vossa administração em nossa Companhia.
“ A vida, escreveu Disraeli, é muito curta para ser pequena.”
Quis assim notável homem de estado, que deu à sua Pátria as maiores glórias do seu império, exprimir, n’um aparente paradoxo, o dever que temos todos de nobilitar a nossa precária existência humana com atos e feitos que a transbordem dos efêmeros anos que a confiança, para o quadro radioso da posteridade onde, corrigindo, por vezes, as injustiças dos contemporâneos, os nossos sucessores venham colher os resultados das nossas criações de inteligências ou estudo, das nossas generosidades ou dos nossos heroísmos, das nossas abnegações ou dos nossos sacrifícios.
Não sei se conheceis, quando aqui chegastes, em plena mocidade, tão sugestivo pensamento. Dir-se-ia, entretanto, que, por ele norteastes a vossa vida, fazendo dela um edificante exemplo de trabalho e uma admirável revelação de valor pessoal, que logo vos impuseram ao respeito de todos os vossos colaboradores.
Éreis, então, um jovem técnico que trazia para a nossa incipiente indústria siderúrgica, começada, através de tantas lutas e incompreensões, pela tenacidade de alguns mineiros ilustres, a contribuição de sua extraordinária competência, que os avisados dirigentes da Arbed já reconheciam como das mais promissoras para a realização do seu programa benemérito.
Cedo, porém, vos revelastes o administrador clarividente, o criador de equipes, o mestre dos seus companheiros, que soube logo transformar a nossa modesta Usina de Sabará, n’uma verdadeira universidade siderúrgica, criadora e aperfeiçoadora de técnicos e operários nacionais e estrangeiros.
Já seria muito para o vosso renome. Poderíeis regressar, vitorioso e feliz, à vossa encantadora Pátria, pedaço do paraíso terrestre e, ao mesmo tempo, um dos maiores centros siderúrgicos da Europa.
Mas, a essa altura, a terra mineira, em cujas mágicas entranhas Lund acreditava esconder-se o próprio coração do globo, já vos tinha conquistado a alma, consolando-vos do imenso que havíeis deixado na Pátria distante, com os arrebatadores acenos do seu futuro, que vos sorria no anfiteatro das suas montanhas majestosas, de desafiando a vossa vocação de pioneiro.
O idealista, que é a substância mesma do realizados, entendeu o apelo e partiu para o sertão para construir Monlevade.
Usina e cidade dentro do sertão, Monlevade tem o prestígio dos sonhos que se realizaram e das utopias que se converteram em apoteoses.
Modelar no seu conjunto, é obra vossa e da vossa equipe; é filha do vosso engenho e da vossa fé; é um monumento do vosso amor e da vossa confiança nos destinos do Brasil.
Todos nós devemos ter orgulho dela, porque nos assegurou a posição de fundadores da siderurgia nacional, como o proclamou, em palavras memoráveis, o Presidente Getúlio Vargas.
Administrador de largo descortinio, sabendo aliar à energia a bondade, dirigindo mais do que mandando, conseguistes fazer de cada um dos vossos auxiliares um amigo devotado que vos venera e respeita como chefe de sua grande família.
Homem de espírito público, ainda mais do que homem de negócios, gostais de empregar os frutos destes amorosamente na terra, como criador apaixonado e bom fazendeiro das Minas Gerais.
Preocupado sempre com o nosso crescente aperfeiçoamento industrial, nunca vos esqueceis de promover, ao lado dele, obras de assistência social, que na nossa empresa dia a dia, se alargam, com o desvelado concurso da dedicada esposa que tão bem elegestes para completar-vos.
O vosso elogio, portanto, meu caro Dr. Louis Ensch, é desses que não precisam ser feitos com palavras, porque está escrito, como queria o Padre Vieira, com a salutar linguagem dos fatos.
Nesta grandiosa terra mineira, podeis estar certo, o vosso nome há de perpetuar-se entre os mais ousados construtores do seu progresso.
Brasileiro honorário, como o reconheceu o governo da República, galardoando-vos com a ordem nacional do Cruzeiro do Sul; mineiro de coração, pela identidade de hábitos e costumes e pelos carinhosos laços da família, é natural que as vossas bodas de prata com o Brasil e com a Belgo Mineira sejam festejadas como um dos acontecimentos mais auspiciosos e gratos.
E para que essas comemorações  atingissem a máxima significação e realce, nem nos faltou a honra que tanto agradecemos, da presença de S. Excia. o Governador Juscelino Kubitscheck, ilustre estadista, que em menos de dois anos de governo conquistou pelo seu dinamismo e espírito realizador, o reconhecimento dos seus co-estaduanos, merecendo o apreço e a admiração de todo o País.
Os vossos colegas de direção na Companhia assistem e participam, com emoção e entusiasmo, de todas as manifestações que vos exaltam e consagram; e, entregando-vos, por meu intermédio, esta lembrança do nosso afeto, formulam seus mais ardentes votos pela vossa felicidade e pela continuação dos vossos triunfos."


Outro Marco Na Siderurgia Da Belgo-Mineira


Em 1952, A Belgo-Mineira adquire o controle acionário da Samitri, empresa de mineração,  fundada em 1939, com jazidas disponíveis para exploração, cujo volume extrapolava em muito as necessidades da base siderúrgica da Belgo.

O objetivo de exportar, cada vez mais, era evidente.

Esse foi um dos últimos atos de Louis Ensch, que vem a falecer em 1953.

Seu sucessor foi Dr.Albert Scharlé, amigo de Ensch desde os tempos em que estudaram na famosa Aix-La-Chapelle, viera ao Brasil em 1929, atuando durante muito tempo na consolidação da Siderurgica, em Sabará.

Em 1958, a Belgo-Mineira voltava suas preocupações para a realização de um segundo plano de expansão, cuja meta seria a produção de 500 mil toneladas de aço.

Monlevade tornava-se, de novo, um grande canteiro de obras com a reconstrução dos alto-fornos II e III.

Por outro lado, configurando a infra-estrutura do projeto de ampliação, eram tocadas as obras civis do Teleférico que ligaria a Usina ao centro carvoeiro de Dionísio, com uma extensão total de 51 km, assim como o Centro Regulador de Carvão e da Estação de Peneiramento, como também as obras na Mineração de Andrade (estação de britamento, construção de silos de minério e uma nova Usina de Sinterização).

No correr do ano de 1958 a Usina de Siderúrgica batia todos os índices de produção de sua existência, especialmente no setor de laminados.

O mesmo ocorre em 59, mesmo contando com o antigo equipamento.

Em Monlevade, a nova Aciaria LD bate recorde mundial de produção.

Com prazer os dirigentes da  Belgo-Mineira explicavam assim o fenômeno:  “Não podemos, por igual, omitir a contribuição que nos tem sido possível fazer à implantação da indústria automobilística nacional e ao incremento da indústria de estruturas metálicas"'.

Por todo o País ocorria um incremento geral das obras civis, tanto públicas como particulares. Era a força de Plano de Metas e a construção de Brasília.

Ao final dos anos 50, com unidades de produção em Sabará e Monlevade, foi concluído o primeiro pavilhão da nova Trefilaria de Contagem, onde já se fabricava arame farpado.

Multiplicado por cinco o seu capital social em quatro anos, a Belgo-Mineira era testemunha das grandes mudanças havidas no Brasil e no mundo.

Fechava o ciclo de seu crescimento.

Abria-se a fase de seu desenvolvimento.

Uma melhor qualidade de vida!

Ao longo do processo de desenvolvimento, a Belgo-Mineira foi adquirindo várias extensões de terras para o plantio de Eucalipto, e outras reservas florestais, para o seu suprimento da matériaprima, o Carvão Vegetal, e, por conseguinte, em cada local, era montada bases com posto médico e serviços de enfermaria.

Concomitantemente, a Belgo-Mineira ia promovendo serviços de engenharia sanitária, aterrando lagos insalubres, retificando córregos e aplicando inseticidas, em locais insalubres. No entanto, a malária sobrepujava, sendo o grande inimigo a ser vencido, necessitando do combate preventivo, junto aos trabalhadores e moradores da região.

Os médicos se constituíam meritoriamente de heróis na luta persistente contra a doença, que a bem da verdade causava muitas mortes. Neste sentido, a Belgo-Mineira, num empreendimento bandeirante, concluiu que deveria ir mais além do que já estava sendo feito: mudar o paradigma de costumes daquele povo sofrido. Foi construindo casas da alvenaria, numa simplicidade, mas sobretudo em condições adequadas de vida.

Escolas, Postos de Saúde, iluminação nas ruas, rodovias de acesso não só para o escoamento do carvão vegetal, matéria prima dos altos fornos, como também, integrando as comunidades que ao longo do tempo iam surgindo lado a lado ao desbravamento.

Em todo o Vale do Rio Doce foram mais de 1000km de estradas de rodagem, colaborando, por conseguinte, com a economia da região, no tocante à logística.
 
As cidades de Pirapora, no norte de Minas Gerais, cidade ribeira do Rio São Francisco, bem como a cidade de Ipatinga, no Vale do Aço, são resultados desse desbravamento.

Aos poucos a Belgo-Mineira, na pessoa do Dr. Louis Ensch foi deixando um legado de vida, da melhor qualidade para os seus funcionários e familiares. E este, é um dos itens que se fez construindo ainda mais com o aumento da produtividade da empresa, na medida em que todos se estimulavam ao trabalho, adoecendo menos, inclusive, marcando então com um índice de absenteísmo relevante.

Esta sim, é a verdadeira valorização que se poderia oferecer aos trabalhadores metalúrgicos, naquela tão difícil época.

A Seguir: Jean Monlevade (IV)


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