Os Tais Quais dia 29 no Teatro Tivoli em Lisboa

DO TEXTO:

Não somos um grupo normal

 Os Tais Quais estreiam-se em Lisboa no Teatro Tivoli dia 29.

Os Tais Quais são uma espécie de super-grupo que junta à mesma mesa Tim, João Gil, Celina da Piedade, Paulo Ribeiro, Sebastião Antunes, Vitorino, Serafim e Jorge Palma. Partem do Cante Alentejano para uma história que poderia ter começado numa qualquer tasca alentejana. O disco de estreia 'Os Fabulosos Tais Quais' é apresentado dia 29 de Maio no Teatro Tivoli BBVA. É a primeira vez em Lisboa .

Num projeto que junta oito músicos, quem é que desafiou quem para começar tudo isto?
Celina da Piedade - Foi o João que começou por desafiar o Tim e os dois juntos desafiaram-me depois a mim, ao Jorge Palma e ao Vitorino. A seguir veio o Sebastião, o Paulo Ribeiro e o Jorge Serafim. Mas tudo isto começou porque, no ano passado, houve um desafio para fazer um concerto em Serpa inserido nas comemorações da candidatura do Cante Alentejano a Património Imaterial da humanidade. Naquela noite juntámos então as nossas músicas com o Serafim como mestre de cerimónias e esse concerto correu-nos tão bem que decidimos continuar.

Mas decidiram continuar já com a ideia de chegar a um disco ou só pelo prazer de tocar juntos?
CP - Já foi com a ideia de gravar um disco, até porque já havia um ponto de partida que eram algumas músicas que o João Gil tinha feito com o João Monge. Depois cada um de nós também trouxe o seu contributo. E assim foi nascendo o disco.

Este é daqueles projetos que se ouve e se pensa logo que não tem nada a ver com trabalho. É pura diversão! Como é que as coisas se desenvolveram até em processo de composição?
Sebastião - Correu tudo muito bem. Do tal concerto de Serpa saíram logo duas músicas, a 'Moda da Passarada' e a 'Moda do Sr. Prior'. E ainda havia um arranjo para o 'Olha a Noiva'. A partir daí começámos a trabalhar nos outros temas e cada um foi trazendo a sua manta (risos).

Foi assim que se formou o acampamento. E deu nisto (risos). Mas existe ou não uma história a correr por detrás dos Tais Quais à semelhença do que aconteceu, por exemplo, com o Rio Grande e os Cabeças no Ar?
Tim - Inicialmente não havia uma história mas eu acho que acabámos por criá-la.

E que história é essa?
Tim - Desde o espetáculo em Serpa que tentámos criar um certo ambiente onde tudo isto se desenrolava. Os Tais Quais são quase como uma banda fantasiosa, de malta que anda na estrada, passa por uma terra no Alentejo e vai parar à taberna do senhor Isaías dando por completo a volta à sua vida. O Isaías, interpretado pelo Serafim, é o taberneiro que não sabe o que lhe vai acontecer na vida, a taberna está vazia, a vila deixou praticamente de existir e ele não sabe muito bem se há-de ir embora com os Tais Quais ou se há-de continuar ali.

Este projeto é para vocês tão divertido quanto parece a quem o ouve?
Tim - (risos) É, porque nos encontramos de uma forma muito fácil. Nunca houve entraves de nenhum tipo e tudo foi muito fácil. Isso vê-se, por exemplo, muito nos nossos videos em que de facto nos divertimos muito. E depois cada um de nós procurou colocar-se de uma forma muito específica dentro do grupo. Todos sabem qual é o seu espaço.

A inclusão de um humorista como o Serafim num projeto musical como este é quase um ato de irreverência!
Tim - Sim, a nós interessou-nos muito manter a presença dele, até para que as coisas depois façam sentido quando passarmos o disco para o palco. No fundo é uma componente poética e crítica dentro do projeto. Nós estamos a lidar com muita música popular e as músicas populares não têm muita letra. São pequenas peças. E o Serafim acaba por dar outra dimensão às coisas. Foi um risco mas o Solnado também gravou a guerra (risos).

Tendo este disco o cante alentejano e a música popular como pedra de toque, isto é quase prestar serviço público!
João Gil - (risos) Se é no sentido de devolver às pessoas aquilo que é delas, então sim pode ser serviço público. Mas este disco também é muito o que é a nossa interpretação da música tradicional e da música popular portuguesa. Da parte que me toca eu tenho que tirar o chapéu ao João Monge porque, em termos de escrita, ele é a raiz disto tudo. Tim - E há outros que dentro da sua sabedoria deram também o contributo a este projeto, especialmente o Paulo Ribeiro, o Vitorino e a Celina de Piedade. Nós que montámos as músicas sentimo-nos de facto muito apoiados por eles.

Discos deste já se vão fazendo muito poucos. Este é um registo completamente contra-corrente. Isso foi intencional?
JG - Pessoas como nós também já não se fazem (risos). Se reunir os amigos para tocar é contra-corrente então que seja. Mas também há músicos muito novos que estão a começar a tocar e que fazem a mesma coisa que nós, fazem-no é de forma diferente e num outro registo. Neste caso acho que a contra-corrente é sempre saudável e se calhar era o que se esperava de nós. CP - O processo foi todo muito mais natural do que isso. Tim - Nós juntámo-nos e fizemos soar as coisas desta maneira. Não tivemos tempo para pensar em tendências de mercado.

Quem é que pode aparecer nos espetáculos dos Tais Quais?
JG - Toda a gente. Em Serpa tivemos desde criancinhas ao louco da terra (risos). Tivemos um largo cheio a rir até às lágrimas.

A Celina é o único elemento feminino do projeto. Foi difícil controlar esta malta?
CP - Ganhei alguns cabelos brancos (risos). Foi ótimo. Foi um processo que correu muito bem. É engraçado porque somos todos de gerações e de áreas diferentes e o entendimento foi perfeito. Foi isso que nos fez acreditar que este disco era possível.

Mas alguma vez foi preciso pôr ordem na mesa?
CP - Sempre (risos). Eu fui muito mimada e muito bem tratada, muito protegida por todos eles. Eu acho que uma mulher faz sempre muita falta num grupo de tantos homens. JG - Quando há muitos homens, há muita testosterona junta. E quando está uma mulher nós controlamo-nos mais. Neste caso o Celina trouxe um som de acordeão completamente único, tem uma voz lindíssima e transformou este coletivo de pessoas numa coisa muito interessante. E depois com o Sebastão que é filho do Tim e com as coisas sentidas que o Serafim tinha para dizer criaram-se aqui grandes afetos. Nós não somos um grupo normal. Tim - A Celina foi um motivo para que todo o grupo se aparaltasse para tocar com ela (risos). É que para além dela ser uma expressão musical muito forte, também se arranja bastante bem. Curiosamente eu não tinha nenhuma experiência de vozes femininas no meu trabalho.

O Sebastião representa a geração mais nova do projeto. Como é que foi trabalhar com estes cotas?
S - Foi muito bom aprender com eles todos. O lado afetivo foi muito grande e só por causa disso é que é possível esta boa disposição que passa para fora. Só por causa disso é que é possível gozarmos uns com os outros.

Sentiste o peso da responsabilidade por estar a trabalhar com o teu pai?
S - Obviamente que sim, mas não foi nenhum entrave, até porque eu já tinha tocado com ele outra vezes. Quando comecei a tocar com o meu pai, a minha maior preocupação não era o facto de tocar com ele, mas sim o facto de ter de substituir o Fred [Ferreira]. Isso sim é responsabilidade (risos). Eu acho que o meu pai deve ter sentido mais o peso quando teve a coragem de me chamar para tocar com ele.

 Tim como é que é ter o seu filho a tocar consigo?
Tim - É fantástico, principalmente porque ele toca muito bem. Essa é a verdade. Eu acho que nós temos um tempo genético perfeitamente controlado. Eu chamei-o porque tinha plena confiança nele para fazer isto. Eu tinha esta carta escondida. E ainda por cima ele canta (risos). E calhou-lhe a 'Algibeira'. O João tinha esta música reservada para mim, mas eu olhei para a letra e pensei para mim, "bolas, eu já tenho 50 anos e já não sou o puto da fisga!" (risos). E então o Sebastião chegou-se à frente.

Em média quantas garrafas de vinho é que este grupo deita abaixo de cada vez que se reúne?
S - Se fossem só garrafas de vinho... (risos). Não! a malta vai de carro para os ensaios e tem que voltar para casa. Nós só bebemos quando comemos juntos. JG - Isso é um mito urbano. Tim - Mas há truques. Em muitos ensaios o Vitorino faz sempre questão de trazer uma merenda para todos. E nessa altura bebe-se uns copos. Mas isso é feito nos intervalos dos ensaios.

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