Eduardo Lages confirma: Roberto Carlos é minha prioridade

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Uma das frases mais comuns na retórica de Eduardo Lages é: “Roberto Carlos é minha prioridade”. Há 37 anos como maestro do cantor, mesmo tendo orquestrado o repertório de Nelson Gonçalves, Daniela Mercury e Simone, por exemplo, ele não abre mão de ser o braço-direito do chamado Rei, a quem ele se refere como “o maior artista popular de todos os tempos desse país”, sem medo de soar descomedido. Apesar da dedicação integral a Roberto Carlos, recentemente o maestro conseguiu um espaço na agenda para inaugurar seu próprio show, não à toa nomeado como “Eduardo Lages e Orquestra – O Maestro do Rei”, que ele traz ao Palácio das Artes, sábado.
A nova empreitada de Eduardo Lages consiste na criação da fictícia Rádio no Ar, que serve de fio condutor para um show no qual ele e sua orquestra são protagonistas de 20 músicas que representam um pouco da sua formação musical – envolvendo de Luiz Gonzaga a Beatles.

O espetáculo, porém, não está alinhado a um clima festivo pelos seus 50 anos de carreira e teve que ser submetido à agenda de Roberto Carlos. “Eu me adaptei à agenda dele. Mas ele não faz mais tantos shows. São produções gigantes, mas diminuíram a quantidade: antes, eram 200 shows por ano, hoje, são entre 50 e 60”, diz o maestro.

A memória de Eduardo Lages, aliás, é constantemente traçada a partir da carreira de Roberto Carlos. Quando conheceu o cantor, ainda na TV Globo, no programa “Globo de Ouro”, em 1978, se rendeu à determinação do artista de querer uma orquestra em suas próximas turnês.

O maestro admite, entretanto, que se envaideceu com a proposta de um Roberto Carlos aos 36 anos de idade, no auge da carreira solo após o fim da Jovem Guarda, sendo regravado por Julio Iglesias e com vários shows marcados no exterior. “Eu fazia uma coisa mais MPB e bossa nova, não conhecia a obra do Roberto, não era fã, apesar de ele ser o maior ídolo do Brasil já na época. O que me seduziu foram as viagens, e seduziria qualquer músico no mundo tocar em Nova York, Buenos Aires, Europa”, diz.

Marcas. Hoje, Eduardo Lages está perto de chegar aos 3.000 shows ao lado de Roberto Carlos. Abertamente, diz ter uma “relação de cumpadre” com o cantor, com quem fala de 15 em 15 dias por telefone ou pessoalmente, no Estúdio Amigo, na Urca. Ali, o maestro presencia de perto todo o detalhismo atribuído ao artista. “A música ‘Esse Cara Sou Eu’ ficou um ano em estúdio: ele trocou a letra e mudou o arranjo várias vezes até sair na novela. O Roberto é muito intuitivo e inteligente para o hit de sucesso. Não adianta disputar com a intuição dele”, crava o maestro.

Com o repertório de mais de cem canções do Rei decoradas, Lages também tem explicação para o roteiro acomodado dos shows de Roberto Carlos, estagnado no romantismo de 1980 e sem inserção de novas canções. “Eu vejo no Roberto a mesma coisa que vejo no Chico Buarque, no Gilberto Gil e no Caetano Veloso, os quatro caras mais tops do país. Ele não faz nada novo porque o que tem aí é tão sem inspiração... Para mim, ele se sente embaraçado. A tecnologia da música tem sido privilegiada em detrimento da criatividade e ele tem medo disso”, avalia.

Outra faceta de Roberto Carlos vem à tona a partir de histórias folclóricas a seu respeito – entre elas, não pisar em formigas, conversar com plantas e ter adquirido o apartamento do vizinho na Urca após uma infiltração causada por uma árvore plantada pelo artista. “Pra mim, muitas dessas histórias o Roberto mesmo inventou. Ele não deixa claro nunca. Mas sempre brinca com alguma coisa. Imagina você fazer 55 anos de carreira e ouvir esse tempo todo que você é o Rei? Ele nunca me falou isso, mas imagino que seja uma jeito leve de lidar com a solidão”, diz Lages.

Longe das polêmicas, Eduardo Lages evita falar da relação entre Roberto Carlos e Tim Maia, mas não se omite sobre a recente decisão do Supremo Tribunal Federal de liberar biografias não autorizadas, na contramão de uma das principais bandeiras levantadas pelo Rei nos últimos anos. “Eu vejo os dois lados. Sou completamente contra a censura, a favor da liberação das biografias, mas sou a favor também de um dispositivo que garanta de forma imediata o recolhimento de livros que constem informações erradas. O que não pode é fazer o estrago e recorrer à Justiça depois”, diz.

Tão perto do show business de Roberto, o maestro não se incomoda de ser parado na rua por causa do cantor e não se arrepende da escolha feita há 37 anos. “As pessoas vêm tirar uma selfie e perguntam meu nome depois. Pedem para eu mandar recados para o Roberto. Mas isso não me incomoda. Ali, sou o maestro do Rei e sei disso. Eu não trocaria o Roberto por ninguém. Ele me ensinou como conduzir uma carreira. No Brasil e no mundo, não há ninguém que saiba fazer isso como ele”.

Agenda

O QUE. Musical “Eduardo Lages e Orquestra – O Maestro do Rei”

ONDE. Grande Teatro do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro)

QUANDO. Sábado, 21h

QUANTO. As entradas inteiras variam de R$ 100 (Plateia I) a R$ 50 (Plateia Superior)


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1 Comentários

Comentários

  1. Bem que eu gostaria de ter o Roberto Carlos como minha prioridade, mas tá difícil, amo esse homem.

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