Quem tem família de
origem portuguesa já deve ter visto o pai ou o avô se servir de uma tacinha de
vinho do Porto antes ou depois da refeição. A tradição é antiga e começou em
Portugal - mais especificamente na região do Porto, onde a bebida foi criada.
De lá para cá muita coisa mudou na culinária, mas esse vinho continua presente
nas mesas de restaurantes como aperitivo ou digestivo. Já chegou até a migrar
para o "outro lado" do cardápio, pois faz as vezes de ingrediente em alguns
pratos, doces e salgados.
A bebida típica do Porto
surpreende pela complexidade, pois não se resume a apenas uma característica.
Há vários tipos, feitos de formas bastante diferentes, cores e sabores
distintos e, claro, as combinações para cada um deles também variam. Para
esclarecer todas as peculiaridades sobre do vinho do Porto, oUOL Comidas e Bebidasreuniu
suas principais curiosidades.
Como
surgiu?
Débora Costa e Silva/UOL
Embarcação turística em frente a Vila Nova de
Gaia, cidade vizinha de onde pode-se ver o Porto, em Portugal
Há controvérsias sobre a
origem desta bebida. Uma das versões mais famosas é a de que em meados do
século 17, os ingleses adicionaram conhaque no vinho produzido na região do rio
Douro, próximo ao Porto, para que ele não azedasse na viagem até a Inglaterra.
No
entanto, este procedimento já era realizado na época das grandes navegações,
mas com uma aguardente vínica. Mas foi no período que os ingleses importavam a
bebida que ela ficou famosa. Até hoje é armazenada nas caves de Vila Nova de
Gaia, cidade vizinha do Porto.
Qual
a diferença entre o vinho comum e o do Porto?
Débora Costa e Silva/UOL
Interior da cave da produtora de vinhos
Sandeman, onde guardam as barricas com vinho do Porto, em Portugal
O comum é gerado a
partir do processo de fermentação: o açúcar da uva é transformado em álcool. Já
no caso do vinho do Porto, a fermentação é incompleta. Ela é interrompida para
que se adicione uma aguardente vínica, que é a substância que dará o teor
alcoolico à bebida. Por isso ele fica mais doce que os outros vinhos, mas
também é mais forte.
Para se ter uma ideia, o teor de suas
bebidas em geral vai de 19 a 22% de álcool, contra os 14%, em média, dos vinhos
comuns, de acordo com o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP).
Tipo de taça
Getty Images
O tradicional copinho de
licor já é coisa do passado. Os especialistas da produtora de vinhosSandeman, de Portugal, e
o chef Renato Higa, proprietário daMoscatel
Doceria, endossam que a nova tendência é a taça no formato de
tulipa. A base larga é para os aromas se misturarem, e a boca estreita é para
encaixar o nariz e não deixar escapar o cheiro.
Além disso, o formato privilegia o paladar.
"A ponta da língua é onde há mais sensibilidade para o doce. A taça mais
fechada já direciona a bebida para lá, potencializando o sabor", explica
Higa.
Ruby
Grapebowl/Creative Commons
Vinhos do Porto, da esquerda para a direita:
Branco, Tawny e Ruby
Entre os tintos, o Ruby
é o mais clássico. É mais intenso, encorpado e doce que os outros, de cor
vermelha escura e mantém o sabor forte da uva. Ele envelhece de três a seis
anos em barris de carvalho e, devida a baixa oxidação, mantém por mais tempo
suas características. Pode ser consumido em média até dois meses após a
abertura da garrafa.
Combina
com:Segundo Higa, o Ruby vai bem com frutas
vermelhas. "Esse vinho já possui uma característica mais frutada e é mais
ácido. Algumas sugestões são morango, uva passa, ameixa e framboesa",
recomenda.
Tawny
Grapebowl/Creative Commons
É feito com o mesmo tipo
de uva que o Ruby, só que envelhece por mais tempo, chega a ficar até mais de
40 anos. Outra diferença é que as barricas são menores, portanto, a oxidação é
maior e a bebida adquire mais a cor e os aromas da madeira – por isso, quanto
mais velha, mais dourada e acastanhada ela fica.
Combina
com:"Todos os vinhos do Porto funcionam
muito bem com doces, via de regra, por conta da grande quantidade de açúcar que
o vinho já tem", explica Higa. Mas pode-se beber também junto com tortas
de massa amanteigada e queijos fortes.
Branco
Getty Images
Produzido com uvas
brancas, envelhece cerca de dois anos e não chega a evoluir na garrafa. Quem
acha o Ruby muito doce, pode dar mais uma chance ao vinho do Porto se
experimentar o branco, que é levemente mais seco. Luiza Martini, proprietária
daCasa de Vinhos - Famiglia Martini, sugere que
tome ele um pouco mais gelado, na temperatura de 6 a 7ºC. "Por ser mais
fresco e aromático, é muito utilizado para preparar drinques, assim como o
Rosé, que é um pouco mais doce que o branco e é novidade no mercado".
Combina
com:Para Higa, chef do Moscatel, frutas secas,
baunilha, bolos e caramelo são doces que combinam bem com o vinho do Porto
branco.
Vintage
Getty Images
Vale do Douro, em Portugal, onde plantam as uvas que produzem o vinho do Porto
São os vinhos especiais,
que saem de uma só colheita, tida como excepcional. Ele envelhece cerca de dois
anos, da mesma forma que os Rubys. O que muda é que, se a qualidade da bebida
se mantém, ela já é engarrafada. E aí pode contar 10, 20, até 50 anos de
envelhecimento na garrafa.
"Os Vintages permanecem pouco tempo
nas barricas para guardar as características do vinho mais frutado, mais
potente, mais complexo", explica Luiza. Ela alerta que é importante que se
consuma a bebida logo que se abre a garrafa (em até 48 horas), senão oxida e
perde as características. "Por isso, recomenda-se que aproveite um jantar
em família, com bastante gente, para abrir um Vintage".
E se, após o envelhecimento nas barricas, o
vinho não mantiver a qualidade? "Se não é excepcional o suficiente, ele
fica mais um tempo nas pipas e é engarrafado como LBV (Late Bottled Vintage) e
vira outra categoria", esclarece.
Combina
com: Como
tem semelhanças com o Ruby, pode acompanhar frutas vermelhas e chocolate,
de maneira geral. Queijos de sabor forte também vão bem.
*
A jornalista viajou para Portugal a convite da rede Hotéis Vila Galé
Tawny
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