Julie
Andrews em cena de "A Noviça Rebelde" (1965)
Roberto Sadovski
Do UOL, em São Paulo
As montanhas ganharam
vida com o som da música há exatas cinco décadas. Foi quando "A Noviça
Rebelde", musical de Robert Wise com Julie Andrews e Christopher Plummer,
teve sua estreia em Nova York. Adaptação do musical da Broadway de Richard Rodgers
e Oscar Hammerstein II, que por sua vez dramatizou a história real da família
Von Trapp, o filme foi inicialmente ignorado pela crítica, que depois o
reconheceu como um dos grandes musicais da história, e abraçado pelo público:
foi o filme que tirou "E o Vento Levou" do topo da lista das maiores
bilheterias de todos os tempos, onde encontrava-se por quase trinta anos.
Nestes cinquenta anos, a influência de
"A Noviça Rebelde" na cultura pop foi palpável. Não que os cinemas
tenham sido invadidos por produções com freiras cantoras – "The Singing
Nun", lançado no ano seguinte com Debby Reynolds, foi um fracasso
retumbante. Mas as canções do musical, traduzidas para o cinema, se tornaram o
motor do sucesso do longa.
A maior prova aconteceu no palco da última
cerimônia do Oscar, quando Lady Gaga, despida de sua figura extravagante e
armada apenas com sua voz, liderou a homenagem da Academia ao filme
--interpretando trechos de clássicos imortalizados no filme, como "The
Sound of Music" e "Edelweiss"--, arrancou aplausos emocionados
e, ao final, ganhou um abraço sincero da própria Julie Andrews.
Ah, Julie Andrews.... Poucas vezes
personagem e atriz combinaram tão bem. Embora ela fosse a primeira escolha de
Robert Wise, o estúdio não estava tão certo, mirando em outras artistas como
Grace Kelly e Shirley Jones.
Lady Gaga canta em homenagem ao filme "A Noviça Rebelde" durante a cerimônia do Oscar 2015
"Mary Poppins"
ainda não havia sido lançado quando a produção de "Noviça" começou, e
Wise, ao lado do roteirista Ernest Lehman, assistiram a trechos do filme na
Disney: bastaram alguns minutos para o diretor saber não só que havia encontrado
sua estrela, como ela seria uma das maiores do mundo assim que
"Poppins" chegasse aos cinemas. E Julie Andrews foi grande, teve uma
carreira brilhante, mas sua carreira nunca repetiu o auge de "A Noviça
Rebelde".
Embora tenha estourado no cinema, "A
Noviça Rebelde" teve sua aura pop amplificada nos palcos. A produção
original de 1959 na Broadway é montada até hoje, com um primeiro revival em
Londres em 1981, seguido por um na Broadway em 1998 e um segundo na capital
inglesa em 2006 – que terminou contratando uma desconhecida como protagonista,
depois que negociações com Scarlett Johansson não tiveram sucesso. Além disso,
"A Noviça Rebelde" já teve diferentes montagens por todo o mundo,
inclusive no Brasil, com Kiara Sasso e Herson Capri, em 2008 no Rio de Janeiro
e em São Paulo.
Em 1992, "Mudança de Hábito" se
tornou o primeiro sucesso no cinema misturando freiras e música – embora de
forma radicalmente diferente que "A Noviça Rebelde". Whoopi Goldberg
interpreta uma golpista que, para fugir de trambiqueiros que querem matá-la,
refugia-se num convento em Nova York. Sua chegada balança a estrutura
hierárquica do lugar, já que ela assume o coral das freiras e cria um grupo
vocal, retrabalhando sucessos soul como canções gospel.
O sucesso foi tamanho que Whoopi se viu na
posicão de maior estrela do cinema por um par de anos, protagonizando uma
continuação feita a toque de caixa e lançada no ano seguinte. Curiosamente,
"Mudança de Hábito" fez o caminho inverso de "A Noviça
Rebelde" e, agora, é um sucesso nos palcos.
Não que "A Noviça
Rebelde" fosse um musical em sua concepção. A família Von Trapp verdadeira
fugiu da Europa para os Estados Unidos no auge da Segunda Guerra Mundial, e
Maria, a matriarca que deixou o convento para se casar com um nobre, publicou
sua história em 1949. "A Família Trapp" foi o primeiro filme baseado
em sua história, uma produção alemã de 1956 que teve uma continuação dois anos
depois.
A versão de Robert Wise com Julie Andrews é
inspirada na vida de Maria, mas toma diversas liberdades, alterando a
cronologia dos fatos e criando uma história de amor poderosa que, segundo a
própria Von Trapp, era mais conveniência que um sentimento real.
A trama, porém, tem o mesmo DNA. Maria é
uma noviça que passa a ser governanta da mansão de um nobre, o barão Georg Von
Trapp. A educação dos sete filhos do barão, que então era viúvo, se torna leve
quando Maria descobre a vocação natural de todos para a música – transformados
em um grupo vocal, eles usam o poder da música para fugir dos nazistas.
Quando começou a produção de seu "A
Noviça Rebelde", Wise conversou com Maria e deixou claro que não se
tratava de um documentário, e sim uma dramatização de sua história de vida –foi
uma cortesia, já que ela havia vendido os direitos de seu livro em 1950 e não
tinha poder de veto. Ainda assim, ela surge em uma das cenas do longa ao lado
de uma de suas filhas. É a prova que a vida real, por mais fascinante, precisa
do tempero da fantasia para criar uma obra eterna.
Do UOL, em São Paulo
"A NOVIÇA REBELDE" - "DO RE MI"
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