DO TEXTO:
Foto: Carlyle Zamith - Portal Clube do Rei


Por: Armindo Guimarães

É sabido que tudo quanto se escreve no Portal Clube tem a ver, ou deve ter a ver, com aquele que lhe dá o nome, ou seja, o Rei Roberto Carlos.

Porém, creio não errar se disser que ao nível dos bastidores, por exemplo, nas mensagens privadas que circulam entre os membros, nem só do Rei se escreve, mas também de outros assuntos. Uns a propósito do Rei, outros quiçá fora do contexto e outros não tanto como espero que seja o caso deste assunto que ora decidi levar ao conhecimento de todos os membros do Portal, em especial dos brasileiros.

Vem esta pequena introdução a propósito de uma reportagem inserta no diário de maior circulação em Portugal (Jornal de Notícias de 19/03/2006) que na sua primeira página anuncia em caixa:
                               
BRASILEIROS À PROCURA DA DUPLA NACIONALIDADE
AUMENTARAM 50%

Nacionalidade portuguesa por via da ascendência directa foi atribuída, só no ano passado, a mais de 12 mil - Burocracia ainda é grande obstáculo.

ÀS VEZES POR CAMINHOS DISTANTES
 MAS TODOS SÃO IGUAIS

Considerada como “Tema de Domingo”, a reportagem, de 3 páginas, tem como suporte mapas, gráficos, tabelas de estatística e as seguintes fotos:

Foto 1 - Um casal abraçado tendo como fundo o monumento lisboeta aos Descobrimentos Portugueses: "Carlos e Amália, dois irmãos de Rio Preto, querem descobrir a terra do avô: Açoreira, em Moncorvo".

Foto 2 - Uma jovem ostentando na mão direita uma certidão tendo atrás de si a bandeira brasileira: "Teresa tem a guiá-la documentos amarelecidos do bisavô beirão".

Foto 3 - Fachada principal da Torre do Tombo: "Documentos mais antigos estão na Torre do Tombo".

Não podendo transcrever a totalidade da reportagem, gostaria, no entanto, e com a devida vénia aos respectivos autores (Inês Cardoso - textos e César Santos - fotos), de citar alguns dos títulos e subtítulos que lhe estão subjacentes:

- Pressão das pesquisas centrada nas conservatórias;
- À procura de raízes portuguesas, os imigrantes passam dias nas conservatórias, Torre do Tombo e Governo Civil;
- Reencontro com a cozinha e gestualidade;
- Nacionalidade aberta até à terceira geração;
- Nova lei alarga linha directa e diminui prazos e obstáculos;
- União de facto em igualdade com condições do casamento;
- Arrendamento atrai para a Caparica;
- Ricardo Pessôa - Associação Brasileira de Portugal: "Benefícios da imigração não são divulgados".

A grande maioria dos estrangeiros residentes em Portugal são cidadãos do Brasil e dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa).

Em 2004:
- Cabo Verde: 55.590, Brasil: 28.956, Angola: 26.702, Guiné-Bissau: 20.825, Reino Unido: 18.005, Espanha: 15.916, Alemanha: 13.128.


SOMOS UMA MULTIDÃO DE IGUAIS

Resumindo, um significativo número de brasileiros em terras lusas está em busca da sua raiz, tudo porque pretendem chamar a si a dupla nacionalidade luso-brasileira. Uns munidos de documentos que a patina do tempo ajudaram a mais parecerem pergaminhos, outros apenas agarrados ao que ouviram dizer sobre a sua ascendência - que sabem que os seus bisavôs ou avós se chamam ou chamavam, por exemplo, António Dias de Sousa Coimbra, nascido em Lisboa, mas não sabem a freguesia para assim obterem a respectiva certidão de nascimento. Então, andam de seca em meca (e Lisboa tem muitas freguesias), a fim de saberem qual a correcta. Há casos em que acabam por concluir que afinal os bisavós ou avós não são naturais donde afirmavam ser, mas sim de uma outra aldeia, vila ou cidade. Por exemplo, um avô disse aos seus netos brasileiros que era natural da Madeira (um arquipélago português no meio do Oceano Atlântico), quando, na verdade, era natural de uma aldeia algures no Continente.

A juntar a toda esta confusão, há ainda os apelidos de família que em alguns casos se constatam ser completamente diferentes, um pormenor curioso que a reportagem não refere, mas que eu, a propósito do meu apelido de família (Guimarães), descobri há tempos, pesquisando: Guimarães tem a ver, é claro, com o local da fundação de Portugal, onde nasceu o primeiro rei, D. Afonso Henriques. Porém, isso não significa que a família daquele que tem o apelido Guimarães seja oriunda daquela cidade, pois que muitos portugueses quando para o Brasil migraram em grande número, a fim de vincarem no seu dia a dia a sua origem portuguesa, alteraram os seus apelidos de família, ou seja, se alguém se chamava António Gaspar Correia de Melo, passou a dizer que se chamava António Gaspar Correia de Melo Guimarães, ou Braga, ou Coimbra, ou Lisboa, ou Viana, de acordo com a terra de onde eram naturais ou até mesmo sem o serem.


NÃO IMPORTA QUAL A COR DO HOMEM

Em conclusão, eu diria que tudo tem a ver com uma questão de identidade que mais cedo ou mais tarde, por este ou por aquele motivo, a todos nos preocupa. Lamento apenas que em Portugal se constate que alguns, nas suas persistentes, trabalhosas e complicadas viagens ao passado, não logrem encontrar as suas origens com a facilidade que a pretensão de querer ter dupla nacionalidade deveria merecer.

Não falo de mim, que a partir de momento em que alguns membros do Portal Clube do Rei começaram a chamar-me o português mais brasileiro é como se já tivesse a dupla nacionalidade, mas falo dos meus irmãos brasileiros em terras lusas à procura da Ordem e Progresso que tanto merecem.
É que nesse mundo todo mundo é alguém.

Os meus agradecimentos ao Derbson Frota (Brasil) e à Isabel Trevejo (Peru), por me incentivarem na publicação deste assunto.

Matéria publicada em 26-3-2006 no Portal Clube do Rei
                              
COMENTÁRIOS

FRIEND escreveu em 10/1/2008
É de grande importância que exista laços culturais e de amizade com outros povos, principalmente com os portugueses que são nossos irmãos. Para Deus não existe divisão. Então porque tanta bobagem? Esse Armindo é um português porreta (desculpe te tratar assim) mesmo, pelo pouco que me comunico com ele, é uma ser nota 10 e muito inteligente por sinal. Parabéns amigo!

AZUL41 escreveu em 16/5/2007
Armindo: que tema interessante este que abordaste aqui, eu falo com conhecimento de causa, porque sem ser de nenhum país daqueles que aqui se falou e sendo dum país que pertence a Comunidade Europeia, vocês não fazem a menor ideia do que há que tratar, bom, burocracia em toda a extensão da palavra, para poder trabalhar e estar legal. Agora imaginem aqueles que não pertencem a comunidade, tudo o que passam. Deixo aqui meu agradecimento, por teres trazido este, eu não diria tema, mas sim problema.

BI escreveu em 30/3/2006
Muito bom. Você está prestando um serviço à sociedade. Gosto muito dos seus textos.

CLEINHA escreveu em 30/3/2006
Armindo, muito bem colocado o teu texto. Adorei. Grande abraço

DERBSONFROTA escreveu em 28/3/2006
Valeu Armindo! Você sempre tem matérias interessantes, né bicho? Você é o kra!

PILATTIS escreveu em 27/3/2006
Com mais esse, e a lista doa anteriores, Armindo já pode entrar na antologia dos autores de matérias sobre RC e o "gostar dele". Abraços!

AJCOLIV escreveu em 26/3/2006
Olá colega de portal! Gostei do seu artigo e também tenho uma palavra a dizer. Sou brasileira em Portugal, já lá vão 26 anos. Sou do tempo que um brasileiro quando chegava aqui era visto com uns olhos diferentes de agora. Fico triste por haver pessoas que dizem que os brasileiros vêm para aqui tirar os nossos empregos e o nosso dinheiro..."que deviam ficar na terra deles" dizem alguns. Tenho pena que um povo que por tantas terras do mundo tem seus filhos, fale e pense assim. Meus pais foram muito novos para o Brasil e foram acolhidos de braços abertos pelo povo brasileiro e em nenhum momento ouviram dizer deles o que se ouve agora do povo brasileiro que para aqui vem tentar a sua sorte. É pena. E até hoje meus pais amam aquela terra que os acolheu e onde eles venceram.

JAMESRC escreveu em 26/3/2006
Muito legal! Digno de ter o Armindo como autor. Abraços.

IATREVER escreveu em 26/3/2006
O problema de identidade pelos vistos está espalhado em toda a América latina. Os argentinos dizem que são descendentes de italianos, os chilenos de alemães, e claro, no Peru que temos todos os sangues, também existem minorias que adjudicam a cor da sua pele ou seu cabelo a suas raízes europeias. Só quem tem descendência asiática não precisam dizer nada porque a marca é evidente. O terrível desta singular história latino-americana, é que ninguém faz alarde das suas raízes nacionais, como se proceder dos avos que nasceram em outro lugar os faz melhores. Mesmo assim, não resolvemos o problema económico, político, social; seguiremos deixando que nossos irmãos briguem só para ser reconhecidos como europeus de segunda, terceira ou quinta categoria. Acho este artigo, como uma contribuição muito valiosa para adquirir, recuperar ou afiançar nossa identidade.

CEZARLENE escreveu em 26/3/2006
Parabéns pelo artigo. É ótimo. O Armindo é muito criativo e legal. Abraços.

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