Roberto Carlos atrai recorde de sambas para o carnaval de R$ 8 milhões da Beija-Flor

DO TEXTO:
Cantor será enredo da escola em 2011 e a disputa pelo samba-enredo deve passar de 120 músicas inscritas até esta segunda-feira, 2 de agosto Roberto Carlos sempre foi a trilha sonora preferida de casais apaixonados. E agora está dando samba. Desde que a escola de samba Beija-Flor de Nilópolis comunicou, no dia 5 de maio, que o cantor seria o enredo do próximo carnaval, viu-se um fenômeno único na ala de compositores da agremiação. Até o momento são exatos 91 sambas-enredos inscritos para o concurso que escolherá a letra oficial do ano que vem. Número que deverá chegar a pelo menos 120, segundo o vice-presidente da ala dos compositores da escola, Jorge Veloso. Todo mundo quer cantar a vida e obra de Roberto no enredo “A simplicidade de um Rei”, desenvolvido pelos carnavalescos Alexandre Louzada, Fran Sérgio, Victor Santos e Ubiratan Silva, sob a batuta do diretor de carnaval Laíla.
Para efeito de comparação, em 2010, quando a escola levou para a Marquês de Sapucaí enredo sobre os 50 anos de Brasília, 49 letras competiram no período de agosto a outubro, quando acontecem as eliminatórias do samba na quadra da agremiação. Em outra escola, a tradicional estação Primeira de Mangueira, a ala de compositores só recebeu, até o momento, 35 inscrições para o desfile de 2011. O enredo por lá, também com temática musical, é uma homenagem ao poeta Nelson Cavaquinho.
Segundo cálculos da escola de Nilópolis, cada samba tem uma média de cinco compositores. Não se pode inscrever mais de uma letra por ano. Isso dá quase 500 pessoas compondo em torno de um só tema: o Rei. Intérprete oficial da azul e branca há 33 anos, Neguinho da Beija-Flor chegou a pensar na possibilidade de voltar a compor para a escola e se inscrever na disputa, que promete ser a mais acirrada na história da agremiação. Mas voltou atrás. Uma das mais marcantes vozes da Sapucaí, caberá a Neguinho cantar a homenagem ao Rei. “Tenho um acordo com a diretoria de não disputar, e isso já dura 15 anos. Deixo para os mais jovens”, diz o intérprete, que conta sobre o clima da comunidade. “A expectativa é grande, todo mundo está vibrando. Roberto Carlos é unanimidade. Vai ser muita emoção. A comunidade está feliz com isso, temos excelentes sambas na disputa. Já andei ouvindo algumas letras e posso garantir que pelo menos quatro são excelentes. Vai ser uma das mais difíceis disputas dos últimos tempos”, avisa Neguinho. O desfile, mesmo sem patrocínios confirmados, está orçado em valores apoteóticos. “Vamos gastar pelo menos uns R$ 8 milhões, ninguém gasta isso. Vamos fazer um carnaval com todo o luxo que o Rei merece”, afirma o diretor de carnaval Laíla. A Beija-Flor terá 17 alas comerciais, de um total de 49. O preço médio das fantasias será de R$ 800, o mesmo desse ano. “As roupas estarão mais leves. Mas não haverá mulheres nuas no enredo”, garante o dirigente.
“Quero que vá tudo para o inferno” vetado
Apesar de nenhum dirigente da escola confirmar a informação, especula-se que Roberto tenha pedido que a homenagem seja restrita à sua carreira musical, sem citar qualquer apelo pessoal. Na sinopse entregue aos compositores, escrita em primeira pessoa pelos carnavalescos, há várias menções a canções famosas do cantor. “Me leva meu sonho em viagem, por uma estrada colorida, onde o tempo
Logotipo do enredo da Beija-Flor
pede passagem e carrega, em sua bagagem, as lembranças que eu trago da vida. E lá vou eu, bem longe, além do horizonte, vivendo esse momento lindo, a reconstruir meu castelo de sonhos entre emoções, como quem chora sorrindo”. Não estão incluídos na sinopse versos como “quero que vá tudo para o inferno”, ou “o bem e o mal existem”, que Roberto excluiu de seu repertório Jorge Veloso analisa esta fase da escola como uma mudança radical do que se esperava da azul e branca.
“A direção pediu um samba mais alegre, mais leve, diferente do que vínhamos apresentando. Queremos uma maior comunicação com as arquibancadas. É uma mudança significativa no jeito Beija-Flor de fazer carnaval”, diz Veloso. Um dos autores do samba do carnaval 2010 e famoso compositor da escola, Picolé está animado com a repercussão em torno dos preparativos do desfile. “A Beija-Flor está dando uma grande guinada em relação aos anos anteriores. Vínhamos fazendo sambas como antigamente, mas agora vamos tentar conquistar a todos, como tão bem faz o nosso homenageado”, conta o sambista. Capricho em respeito ao Rei Um dos compositores sempre favoritos na escola de Nilópolis, Claudio Russo venceu nos anos de 2004, 2007 e 2008, exatamente quando a Beija-Flor faturou campeonatos. Para este ano, ele afirma que a dedicação à letra está tirando o seu sono. “Está difícil fazer a letra. Roberto Carlos é a figura mais popular da nossa cultura, não podemos fazer qualquer coisa para ele. Tem que ter dedicação e capricho. Por isso mesmo adiamos a entrega da letra para o último dia, até lá vamos dar os retoques finais”, diz Claudio, que prevê uma disputa acirrada em torno do enredo. “O assunto acaba atraindo muita gente. Não só porque a escola permite que qualquer brasileiro participe da seleção, mas também porque um samba sobre Roberto vai ser bastante executado na mídia”, prevê o compositor que assina a letra com outros cinco parceiros.
Para a “candidatura” de um samba, se gasta em média R$ 20 mil. Neste valor estão incluídos o aluguel de estúdio, compra de bandeirinhas e gorjeta para torcida, confecção de camisas e contratação de um intérprete para defender o samba nas eliminatórias da quadra. Caso vençam, os compositores dividem entre si os lucros pela comercialização da letra. “Tira o prejuízo e coloca algum no bolso. Não é investimento, não é algo rentável. Com o enredo sobre Roberto Carlos, é provável que seja mais lucrativo. Mas depois que inventaram a pirataria, não dá para se esperar muita grana”, diz Claudio Russo. Caberá a uma comissão formada por integrantes da escola decidir o vencedor. Representantes da ala das baianas, da velha guarda, da bateria, da presidência e os próprios carnavalescos irão opinar sobre cada uma das letras. “Homenagem justa e necessária” O interesse criado em torno do enredo só comprova que o rico acervo musical rende tema para o carnaval. É o que defende o historiador e produtor musical Ricardo Cravo Albim. “As escolas cantam, às vezes, assuntos que não têm nada a ver com nossa vivência. Quando personagens populares, como é o caso do Roberto, são bem-vindos, o interesse é realçado pelo público e pela ala de compositores”, explica.
Ainda segundo Ricardo, mesmo que Roberto Carlos não tenha um repertório voltado ao samba, sua trajetória musical lhe confere a homenagem. “Eu não diria que Roberto tenha ligação com o samba, mas com os produtos paralelos gerados por ele. A Jovem Guarda não tem conexão com este universo, é claro. Mas a canção romântica brasileira sim, como, por exemplo, o samba canção. Além disso, Roberto abrigou pessoas de samba nos seus programas de TV. Ele é um elo da música popular. A homenagem é justa e necessária. Roberto é, acima de tudo, um cantor brasileiro fundamental. Seria até ótimo se ele fosse mais do samba”, diz o historiador. Cantor vai à quadra da escola A paixão do cantor pela escola já é de longa data. No último especial de final de ano da TV Globo, Roberto convidou a bateria, passistas, mestre-sala e porta-bandeira e o intérprete para se apresentarem junto a ele. No carnaval de 2009, aceitou o convite de Neguinho para ir à Sapucaí presenciar seu casamento em pleno desfile. Ovacionado pelas arquibancadas, Roberto Carlos assistiu a tudo com um sorriso no rosto. Mas esta não será a primeira vez que ele pisará na Sapucaí como o personagem principal da festa. Em 1987, o cantor foi enredo da Unidos do Cabuçu, escola do grupo de acesso.
A primeira fase das eliminatórias do samba de 2011 começa no dia 2 de agosto, a partir das 21h, na quadra. Até o dia 9 todos os sambas inscritos irão se apresentar, já havendo cortes diários. Ainda não foi definida a data da final. “Tem gente que gosta de manter o fator surpresa e só vai entregar a letra no último dia. Ou seja, este número de inscritos tende a aumentar ainda mais. Vai passar dos 120 sambas, com certeza”, prevê o vice-presidente da ala de compositores. Ainda na fase de negociações, após o carnaval deste ano, ficou acertado que haveria um show de Roberto na quadra da escola, para que ele possa ter contato com a comunidade. Procurada pela reportagem, a assessoria do cantor informa que não sabe ainda a data que ele deve comparecer à Baixada Fluminense. Como forma de comprometimento com o desfile, o cantor prometeu visitar a quadra no dia de uma das eliminatórias do concurso de samba-enredo. Mais um motivo para que os fãs de Roberto vistam a fantasia de compositores da Beija-Flor.

Valmir Moratelli, iG Rio de Janeiro http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura

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